JC ma grota de Angico-SE com o saudoso Alcino Costa(ao meio) e Bosco André |
Que ninguém mais possa acreditar que o perdemos como quem perde
simplesmente um pedaço importante de uma estória, um causo, uma epopéia, uma
vida inteira... Isso não! Apressado, ele apenas partira antes de nós. Quem sabe se encantara numa
dessas bibocas aprazíveis dos sertões do
mundo. Das coisas que ele amava e
defendia com unhas e dentes. Ou esteja,
quem sabe, apenas tirando um cochilo nas sombras dos arvoredos nos caminhos
que dão pras bandas da sua querida Poço Redondo ou mesmo na sagrada
grota de Angico, nas areias do imenso rio...
Com os olhos do
coração haveremos de sentir e vê-lo de
novo, agora eternizado nas palpitantes histórias que seus livros contam. Digamos então,
para que todos o saibam:
- O caipira de Poço Redondo não morrera, apenas
despertou para à eternidade!
Ele é teimoso e ousado. De modo que nunca deixaria
o sertão assim tão fácil.
E a vida por seu turno, é
assim mesmo. Um longo caminho marcado por uma sucessão de encontros e desencontros. Nesta eterna
marcha, às vezes avançamos, outras vezes ficamos para trás quase sem nos dá
conta. O que não se pode no entanto, é nunca
desistir desta árdua caminhada. Porque a marcha
da vida nunca cessa. Pois só existe um grande segredo: é caminhar e caminhar...
De Piranhas para a grota de Angico pelo rio São Francisco |
Em geral, todos os que trilharam estas veredas ao menos uma vez na vida acreditam inapelavelmente na possibilidade do grande encontro. A
esperança é o que nos move a nunca desistir.
Pelos menos quando pela primeira vez (em março de 2011)
segui a trilha na direção da grota de Angico foi assim. Tive a mesma sensação
de está viajando na máquina do tempo. Um importante instante de reflexão que
fiz acerca da história do cangaço e da minha própria vida; dentro de um cenário
típico da caatinga nordestina. Ainda com meus pés molhados com as águas
límpidas e divinais do São Francisco. Tive com este rio, também um encontro dos mais fantásticos e inesquecíveis... E
ao meu lado, com seus passos lentos, o mestre Alcino Costa – o velho caipira de
Poço Redondo. Boa conversa, aqui e acolá
entrecortada por uma observação
histórica, ou mesmo uma das suas piada
chistosas e apimentadas.
Aninha da Petrolina segurava a sua sombrinha. O mestre como sempre estava
feliz. E o sorriso largo era por assim dizer, o cartão-postal da sua agradável
presença. Também ao seu lado, a sua grande amiga Juliana.
Sua alegria contagiava todos que estavam a sua volta. Todo o ambiente
ficava assim, meio leve e fagueiro com sua presença de espírito.
E assim seguíamos no rumo da famosa grota.
E assim seguíamos no rumo da famosa grota.
Vez por outra uma parada para um descanso rápido. Perguntei-lhe
quantas vezes ele já estivera ali percorrendo o mesmo caminho. E ele me disse:
- “pra mais de vinte”. Era de fato, um apaixonado por tudo que dizia respeito à
história do cangaço em qualquer parte do Nordeste.
Estava visivelmente cansado pela longa caminhada dentro da
caatinga sergipana. Mas não desistira. Muitos como o próprio Severo, decidiram
ficar na palhoça às margens do rio. Oferecera-me
inclusive a câmara.Fiquei assim
responsável pelo registro das imagens dali em diante.
Subíamos a trilha íngreme do cangaço sob o sol escaldante de
maio. O velho Chico ficava para trás
como um antigo guia com a obrigação de nos levar de volta à bela e histórica
cidadela de Piranhas.
Parada rápida para mais uma “fuga” como se diz nos
sertões. Mais uma piada. Uma
brincadeira. E de novo prosseguimos até a próxima parada sob a sombra rala dos
arvoredos típicos daquele bioma de Sergipe – a pátria agreste do Alcino.
Chegamos, diríamos que todos exaustos. Os homens citadinos
por mais que o queiram não estão mais afeitos a caminharem com seus próprios
pés dentro dos matos, como assim fizeram seus ancestrais e os próprios
cangaceiros dos sertões.
Na trilha para Angico JC logo atrás Alcino Costa, Juliana, Kiko e Ana Lúcia |
A grota estava escaldante. A estiagem a castigara muito mais
que no seu entorno. Quase nenhuma sombra se encontrava ali. Todos ficaram
literalmente entre pedras. As cactáceas dominavam aquele ambiente quase
inóspito, marcado por uma histórica de sangue e tragicidade.
Após alguns instantes o mestre Alcino tomara a palavra.
Quase meia hora de rica apresentação ao lado da cruz que indicava aos
visitantes o local exato onde morreram o reio do cangaço e sua amada Maria. O
local era de fato, a marca literal de uma grande tragédia. E a própria natureza parecia querer perpetuar
aquela sensação imagética de tristeza absoluta. Depois, Vilela discorreu sobre a homenagem ao soldado Adrião que também
tombara morto no mesmo local..
A camimho de Angico: Alcino, Juliana. Kiko Monteiro e Ana - março de 2011 |
Muitas fotografias começaram a ser feitas. Quase todos
queriam um registro com o mestre Alcino ao lado do cruzeiro. Inclusive eu. Entreguei a câmara a um dos
companheiros. E lá estávamos prontos para à posteridade: Eu ao lado do Alcino e
Bosco André. Eis agora a imagem da minha própria saudade.
Revendo esta foto hoje, sou tomado por um cipoal de lembranças
que me invadem a alma, como se fossem a própria enchente do Velho Chico rompendo
sem piedade as ribanceiras dos sertões como a nos dizer que também sente saudade do mestre caipira de Poço Redondo.
Quando navegar de novo as doces águas do rio São Francisco
de Piranhas à Angico, sei que me encontrarei com Alcino. E aí haveremos de
botar o papo em dia... falaremos de pesquisas, de livros, do Cariri Cangaço, da
Aurora, do coronel Izaías e de outras amenidades no sentido de aplacar nossas
saudades.
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(*) José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora-CE.
Secretário de Cultura
Aurora-CE.
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