quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A Educação brasileira e a luz no fim do túnel... - Por José Cícero

Às memórias de:
Anísio Teixeira, Paulo Freire, João Calmon e Darcy Ribeiro.
 
Diante do pífio resultado que o Brasil  obteve recentemente no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes(PISA-09) onde amargamos a 53º colocação de um total de 65 países avaliados no globo, há que se fazer uma reflexão.   
Para se ter uma idéia, a avaliação com estudantes de 15 e 16 anos onde foram priorizadas  questões de  português   e matemática, perdemos  na América Latina para o Chile e o Uruguai só para citar um exemplo.  No topo da aprendizagem, segundo o programa  encontra-se a China. Na avaliação da Unesco também não estivemos tão bem. E no ranking global de qualidade de educação ficamos no penúltimo lugar acima apenas da Indonésia.
Não resta mais nenhuma dúvida, em educação estamos literalmente no vermelho. Apenas os homens de Brasília e os bem pagos teóricos da educação a dormitarem em seus confortáveis birôs a ar-condicionados não enxergam tal situação. Uma realidade pela qual o país ainda pagará um preço muito alto, caso não decida por uma intervenção mais forte e consiste o mais urgente possível na sua atual  política educacional.
Ainda há quem acredite que o problema do baixo nível da aprendizagem dos nossos estudantes  esteja unicamente restrito à falta de investimentos na base do sistema principalmente, ou seja, no ensino fundamental. Ou mesmo na ridícula estrutura político-educacional que o país oferece, desde as metrópoles aos municípios interioranos nos mais longínquos rincões. Como ainda nos baixos salários pagos aos profissionais da área e por aí vai...
A crise, entretanto é mais profunda e mais sistêmica do que supomos, logo de cunho realmente estrutural. Posto que todo o resto é deveras sintomático. É preciso portanto, que se quebre desde já  o círculo de fogo ou de giz com o perdão do trocadilho. Imaginemos que os mesmos estudantes que ora estão mal formados, um dia hão de retornar ao sistema como professores. Pois, ao longo do tempo é justamente isso que vem ocorrendo em diapasão.  Mas eles não têm culpa, dado que a culpa é de fato,  do próprio sistema. Esta foi por quase meio século a educação que nos ofereceram e,  mais recentemente,  à guisa de universalização do ensino gratuíto e de qualidade para todos.
De maneira tal que a questão não é tão simplória assim. É evidente que a falta de uma remuneração mais digna, além de não atrair bons profissionais, também termina por desanimar os que já optaram pela carreira no magistério. Sem esquecer que, uma boa parcela destes, está mais por falta de opção no mercado de trabalho do que por vocação. O que  não deixa de se constituir como  um problema a mais na crise porque passa o sistema educacional brasileiro como um todo. 
Correndo por fora, mas não menos importante, vem à questão da violência e das drogas que, inclusive, assim como a própria crise, também já se interiorizaram. E que infelizmente quase nada foi feito de efetivo no sentido de combatê-las para se preservar e garantir os espaços escolares. Como também  a inexistência de um programa de capacitação continuada para professores para uma educação inclusiva; a quase que total ausência da família nas discussões escolares, bem como o escancarado processo cada dia mais crescente de desvalorização do papel do professor e da própria escola junto à sociedade. 
E como estamos nos reportando, em especial,  à educação pública, urge ressaltar que a mercantilização do ensino com a sua  propaganda elitizada, também tem contribuído para colocar em descrédito o atual nível de aproveitamento da escola pública. O que  por seu turno, vem desanimando os bons profissionais a seguirem a carreira do magistério.
Apenas como dado, a grande maioria dos professores que atuam no sistema público de ensino, mantêm seus filhos no sistema privado. O que representa sem dúvida, uma enorme contradição. Pode haver  uma propaganda maior e mais negativa  que esta para o ensino público? É preciso acreditar para poder  transformar. Do contrário estaríamos literalmente  ‘malhando em ferro frio’.
Podemos afirmar, por conseguinte que, a despeito de toda esta problemática, a crise também é de ética e humanismo, caso não haja entrega, amor, dedicação e vocação por parte dos que  fazem a educação no dia a dia, bem como dos que não a tratam como uma prioridade estratégica e de interesse nacional. 

Por outro lado, a desvalorização notadamente financeira da categoria é algo gritante para os padrões de um país que se imagina um dia ser grande. Uma potência das Américas. Contudo, é imperioso que se diga, por exemplo, que mesmo de modo gradual e lento, estas questões vêm sendo melhoradas, não como deveriam, mas em vistas de toda uma realidade em que se encontrava, já tivemos avanços. Tais como a institucionalização de medidas e mecanismos políticos como o Fundeb, assim como, a lei do Piso Nacional de Salários da categoria, dentre outros, constituem alguns deles que no fundo podem sinalizar para uma saída.
Mesmo assim, esbarramos num obstáculo que aos poucos, vai se mostrando difícil de superar, sobretudo diante de  medidas, que ao que tudo indica, de feitio paliativo. Falo dos baixos índices da nossa aprendizagem e da verdadeira  aversão ao hábito da leitura por exemplo, que somados se refletem naturalmente, na péssima produção escrita e incapacidade de decodificação e interpretação de texto. 
Não tem sentido, sabermos que infelizmente ainda há um percentual altíssimo de estudantes que chegam ao ensino médio sem saber ler e escrever. Deixando muito a desejar, igualmente, no aspecto do chamado raciocínio lógico. Algo que destoa da realidade de alguns países não somente europeus, mas até mesmo  da América Latina e da África que com estruturas inferiores a nossa estão conseguindo bons resultados no campo educacional. Tendo inclusive superados os nossos atuais índices de aproveitamento educacionais e vários programas internacionais de avaliação. 
Então o que de fato está errado? O que fazer? Eis as indagações a que todos, sobretudo os que se dizem nos representar lá em cima, haveriam de se interrogar antes de prosseguirem com medidas no mais das vezes contraproducentes como é possível notar. Ora a certeza da mudança transformadora de qualquer realidade encontra-se primeiro nos ondivíduos, assim como  nas mãos, mentes e corações dos  sonhadotres  vocacionados. Razão porque é fundamental a entrega.
E, como a falta de educação aprofunda as desigualdades sociais, é imperioso que se faça o quanto antes, e sem mais delongas, uma intervenção de choque no sistema educacional brasileiros, sob pena de perdemos espaços significativos na chamada economia de mercado, da tão famigerada globalização. Sem isso o Brasil comprometeria seriamente o seu projeto de crescimento, já agora,  na esteira dos chamados países emergentes(em desenvolvimento). Sem esta educação  de resultados, o salto de qualidade da nossa economia tais como as proposta de crescimento elencadas por Lula e Dilma podem ficar cada vez mais distantes do que se imagina. Visto que estariam, seriamente compormetidas. O que ocasionaria  sérios prejuízos para o futuro do Brasil.
Mas dizem os arautos do poder que  há uma luz no fim do túnel. Que seria a proposta do direcionamento de 10% do PIB para à educação, cuja propositura  começa a ganhar corpo agora com  a utopia dos chamados Royalties do petróleo, leia-se pré-sal.   
Mesmo vendo esta história com um pé atrás, em parte, pela questão ambiental relacionada  à continuidade da  queima de combustíveis fósseis e dos hidrocarbonetos, ou seja, coma uma medida altamente daninha para o futuro do planeta e, portanto, politicamente incorreta. Todavia, quero acreditar que estes recursos(caso existam) possam gerar novas esperanças no campo das soluções possíveis para  a crise educacional que o país vibencia. Seria o clássico axioma de "decobrir um santo para cobrir outro".
O problema é que isso teria que ser para ontem. Posto que  tudo o que se faz em educação é um investimento de longo prazo. Nossa educação não mais comporta intervenções de caráter  minimalista com interesses imediatistas. Há que haver além de grandes investimentos, um tratamento de choque aliado a uma verdadeira gestão de resultados. Há que se premiar as boas ideias e os nossos mestres também pelos esforços e os resultados alcançados. Na ânsia de também melhor estimulá-los diante desta verdadeira batalha socioeducacional em favor do conhecimento. Do contrário, a crescente bola de neve da nossa educação continuará e, daqui a pouco, não terá mais jeito de pará-la. Há que se  implementar sem demora uma verdadeira  revolução na educação brasileira, senão perderemos  de uma vez por todas, o bonde da história.
Com decisão política, esforço, engajamento e inteligência será possível  colocar nossa educação no lugar que merece. Notadamente  por ser ela a força motriz de todo crescimento social, político, econômico, cultural e tecnológico que qualquer nação necessita para se fazer grande efetivamente ante a chamada era da informação e do conhecimento.

Por meio de uma política de valorização profissional no ensino público em todos os níveis e pesados investimentos em projetos educativos, capacitação  de professores e salários mais atrativos, espera-se que os melhores cérebros também se interessem por este ofício nobre de ensinar as gerações do presente e do futuro a pensar e construir coletivamente uma nova história.  Que assim  se possa pôr um fim ao atual voluntarismo estanque da nossa atual práxis pedagógica. Como  também com a chamada jornada dupla ou tripla de trabalho dos nossos professores que, muitas vezes para melhorarem seus rendimentos precisam lecionar(pasme) mais de duzentas horas. Então; como planejar bem? Como  darão conta da aula, da preparação, do estudo, da pesquisa,  da leitura,  de cuidar da casa, dos filhos, da família, da saúde, do lazer... Ainda se envolver com os assuntos pertinetes à escola, aos alunos e a comunidade...
Que se possa instituir no país uma política educacional mais coerente, sólida e producente. De fato comprometida com o nosso crescimento social e  que assim valorize a um só tempo, as diferentes realidades, sem perder de vista  os profissionais que são os autênticos construtores de um novo tempo que se espera para o país.
Que haja uma educação de resultado e inclusiva, mas que consiga igualmente estimular todos os agentes envolvidos nesta tarefa, como um projeto político de nação. Que a educação passe a ser uma prioridade nacional e que seja encarada como uma política de estado focada nos indivíduos. No sentido de que seja possível fazer valer a contribuição de cada cidadão brasileiro como partícipes desta grande empreitada social.
Que se respeitem, além das diferenças dos nossos educandos, regiões e professores, como o tempo e o ritmo de cada indivíduo envolvido no processo pedagógico.  Primeiro como ser humano, que aprende, mas que também ensina. Depois, como profissional estratégico para os interesses maiores do país. 
Que se incentive e se invista seriamente  no ser humano. Na a pesquisa, na leitura, no lazer e na saúde de todos.    Tendo em vista a produção do conhecimento e o acesso ao ensino como uma das nossas mais importantes conquistas democráticas.
E para que  tudo isso possa se transformar de vez  em mais motivação e mais estímulo em favor de uma educação de qualidade, diferente, moderna, progressista e transformadora. 
Pois o Brasil precisa disso e,  em regime de urgência urgentíssima.
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Prof. José Cícero
Secretário de Cultura, Turismo e Esporte
Aurora – CE.
Foto: pedagogiaaopedaletra.com
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2 comentários:

Anônimo disse...

" ...a crise também é de ética e humanista, caso não aja entrega, amor, dedicação e vocação por parte dos que fazem a educação no dia a dia, bem como dos que não a tratam como uma prioridade estratégica e de interesse nacional."

Comentário: O verbo "aja" (agir) está empregado erronemante. O correto é "haja" (haver)

José Cícero disse...

Mui grato pela providencial observação nobre ANÔNIMO/Luiz. Correção efetuada...
Saudações!
Editoria Blog da Aurora