CARRO DE BOI
(Antonio Vítor)
Tarde da vida quando se amontoa os anos
debruçado em desenganos da minha desilusão,
fico espiando da janela do presente
retalhos de antigamente que me dói como ferrão.
Vai, boi penacho; puxa o carro, boi carreiro,
companheiro de viagem nas quebradas do sertão,
leva essa carga, rasga o barro do caminho,
se couber leva um pouquinho de mágoa desse peão.
Peão que chora quando vê o sol baixando
e um carro de boi cantando seu gemido de paixão,
sai num suspiro meu gemido solitário
e desfia o meu rosário em contas de solidão.
Sou um carreiro vencido pelo cansaço,
mas me lembro do chumaço, da chaveia e dos cocão,
eixo e fueiro, cabeçalho, cheda e mesa,
velho tempo de riqueza que virou recordação.
Ainda me lembro recavem e o pigarro,
cunha na roda do carro, cambota, arreia e meião,
chapa esse cravo, canzil, brocha e tamboeiro
o ajoujo, a tiradeira, argola, canga e cambão.
Vai, boi Penacho, puxa o carro e vai embora,
já venceu a minha hora, terminou minha missão,
leva essa carga de tristeza que me invade,
se couber leva a saudade que me aperta o coração.
Vai, boi Penacho; puxa o carro, boi Carreiro,
companheiro de viagem nas quebradas do sertão,
leva essa carga rasga o barro do caminho,
se couber leva um pouquinho da mágoa desse peão.
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