Quem será capaz de não sentir saudades das antigas ‘paradas’ dos memoráveis desfiles de 7 de setembro que tradicionalmente nos anos idos, grassavam por este Brasil inteiro, incluindo o nosso interior?
Quem acaso conseguirá no dia de hoje não rememorar intimamente as velhas imagens guardadas no âmbar das nossas memórias afetivas, daquele tempo densamente marcado pela alegria e o contentamento embalador dos nossos sonhos mais utópicos, juvenis e mirabolantes?
Grandes desfiles que ficaram para sempre em nós, como verdadeiras cicatrizes em carne viva. Marchas cansativas que adorávamos participar com o sol a pino. Formação marcial, execução de hinos intermináveis. Discursos maçantes e fisiológicos. Colorido cívico e emblemático do verde oliva como que a pintar os nossos anseios por dentro. Quanta alegria de se compor a bandinha – a charanga do velho educandário. Instrumentos de couro cru e depois de nylon. Ensaios prolongados e cansativos pelas ruas. Dobrados, som de cornetas, coreografias apresentações da nossa cultura latente e regional. Ás memórias dos antigos 7 de setembro também se misturam no mesmo caldeirão de reminscências os educandários, os colegas, os professores, familiares, as ruas com um coloridos diferente para aquele dia especial... O zelo e a preocupação dos nossos país para com o fardamento e o "despertar" sempre mais cedo.
Antigos setes de setembro, agora são por assim dizer, sonhos espedaçados. Lembranças hidricamente a se derramar nos olhos e nos nossos sentimentos mais sentidos. Saudade apenas. Passado. Eterno retorno das nossas memórias no túnel fantasmagórico do tempo e dos antigos anos em que éramos felizes e não sabíamos.
O 7 de setembro era uma festa. Glória maior de todo o nosso interior provinciano. Que por por mais pequeno que fosse o município o 7 de setembro era um acontecimento grandioso. Um momento auspicioso e afirmativo esperado com sofreguidão e entusiasmo o ano inteiro. Um dos nossos instantes mais fortes no qual se expressavam os nossos sentimentos cívicos e valentes de estudantes caririenses aspirando um novo mundo...
Tempos difíceis mais adoráveis e inesquecíveis foram aqueles... Anos dourados da nossa meninice e juventude adolescente. Tempos áureos da ditadura, se é que podemos chamá-los assim, por conta dos seus desdobramentos e outras descobertas quesó ficamos sabendo doravante. Mas que decerto, para a gente destes rincões do mundo, o 7 de setembro era uma conquista. Um instante da mais pura auto-afirmação em que colocávamos no lugar mais alto e seguro do nosso coração verde-amarelo a nossa condição de cidadão; movidos pelo civismo mais absoluto no qual se encarnava e se expressava o nosso amor maior à ‘pátria amada e idolatrada salve e salve’.
Quase nada sabíamos dos trágicos acontecimentos políticos que ocorriam lá pra cima nos bastidores e nas masmorras tenebrosas dos militares na sua perseguição ferrenha aos chamados recalcitrantes revolucionários do terrível sistema. Vivíamos aqui assim mesmo em cada 7 de setmbro acreditando piamente a cada ano numa utopia possível...
Mas no fundo, não há como não reconhecer ainda hoje, que o 7 de setembro do nosso passado nos marcara o mais profundamente possível. Razão maior das nossas saudades. Motivo grandiloqüente das nossas lembranças mais fortes e inesquecíveis. Contudo, ainda agora por mais que queiramos, nunca haveremos de presenciar outros desfiles como os daqueles anos. Ademais, todo momento é único. Por isso é necessário que se viva intensamente tudo.
Todavia, a despeito de todo o sentimento de românticos que há muito perdemos ou os deixamos para trás, nas brumas do tempo, o 7 de setembro que um dia vivemos nunca mais será possível revivê-los. Eis aí toda a motivação desta saudade inexorável que nos invade a alma tanto quanto o espírito.
Então, quem não sentirá saudades das antigas ‘paradas’ dos velhos desfiles de 7 de setembro? Quantas saudades! Quantas recordações. E o mais incrível é que, malgrado todos estes anos que nos separam das comemorações de outrora, olhamos para trás e temos a nítida sensação de que tudo aconteceu como se fosse ontem.
Meu Deus que saudade dos antigos 7 de setembro! Um passado que ao que parece, nunca passa dentro da gente.
José Cícero
Sec. de Cultura
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