Tenho ainda hoje, mesmo depois de tantos anos a lama deste rio grudada entre meus dedos.Sinto-o como lágrimas a escorrer agora sobre meus lábios.
Tenho-o agora de um jeito diferente de quando um dia fui menino.
Amo-o como nunca, toda vez que vejo novamente a exuberância das suas águas diante dos meus olhos.
Sinto-o por dentro no mais íntimo dos meus sentimentos.
Ondas de antigas recordações deste rio invadem agora todo meu âmago. De modo que o sinto grandioso e imensamente como dantes. E assim carrego sua límpida nascença sobre a palma das minhas mãos.
A violência de antigas correntezas. O cheiro das suas águas, o rebuliço das piabas, branquinhas, Carís e outros peixes. O olhar desconfiado de todos os seus pescadores ribeirinhos.
A imagem quase plástica das suas invernadas.Visão inesquecível de donzelas peladas tomando banho, protegidas pelas moitas de Mari e outros arvoredos.
Águas e mais águas a se espraiarem por sobre as ribanceiras.
Enchentes e mais enchentes engordando o rio na sua eterna vontade de quere ser mar.
Rio calmo perante as estiagens dos anos. Rio intrépido galvanizando as enxurradas de todo o vale.
Rio da minha infância em cujo leito deixei mergulhadas para sempre as melhores memórias da minha adolescência. Rio indelével que conservo em mim como um quadro de Dali pendurado na parede da minha própria vida. Rio passado que nunca passa em mim.
Este é o rio que guardo para sempre. Um rio que não seca nunca. E que eu nunca esqueço.
Rio perene das minhas lembranças de um tempo em que fui menino.
resci ao lado deste rio. Amei tanto este rio que um dia quando criança ansiei virar peixe e assim viver para sempre dentro dele.
Por isso até hoje, onde quer que eu ande levo este rio comigo como um tesouro.
Trago-o em minhas veias, como o sangue ancestral dos índios.Carrego-o nas minhas recordações mais fortes. De modo que este rio não morrerá nunca, posto que está eternizado em meus sentimentos mais sentidos.
Ele é o verdadeiro mar dos meus verdes anos. O oceano que o velho Conselheiro profetizara para o meu sertão. Uma metáfora diferente carregada de encantamento.
Por meio dele senti o mundo pela primeira vez na vida como que a escorrer sobre meus pés e mãos.
Bebi-o com a sofreguidão dos que têm sede, como quem sorve um cálice bento.
Banhei-me e nadei naquele rio como quem experimenta repetidas vezes mergulhar nas nuvens do céu. Como quem sente está muito mais perto de Deus...
Glória para sempre a este rio, que ainda hoje alimenta o chão e as gentes do Cariri inteiro.
O rio que amo eternamente de janeiro a janeiro pela existência adentro.
Rio Salgado, o rio mais doce do mundo.
Ø José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora-CE
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