segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O que estão fazendo com o nosso sagrado direito de votar?

Por José Cícero

Sempre haverei de compreender um voto de protesto. Principalmente como um fenômeno sociopolítico sempre possível de acontecer dentro do processo democrático-eleitoral de qualquer nação que faz uso da sua consciência cidadã. Principalmente aquelas que alimentam a grande ânsia de um dia puder mudar o seu destino para melhor. Mas, digamos que, de uma maneira razoavelmente inteligente. Afinal de contas, o voto sempre deve ser encarado como um instrumento fundamental para o aprimoramento de qualquer realidade social.
Porém, o que dizer agora da enorme possibilidade de o Tiririca vir a ser eleito com quase um milhão de votos no maior colégio eleitoral do Brasil? Repetindo o feito de figuras como Enéas Carneiro(Meu nome é Enéias) e Clodovil Hernández que, por gravidade, ainda levaram a reboque vários outros candidatos sem a mínima votação ou expressão popular?
Curiosamente no caso específico do Tiririca, que por sinal é cearense, quem deverá ocupar o assento na Câmara será o cidadão ou o artista? Ora, porque o candidato inscrito e que se apresenta no programa eleitoral é justamente o ‘palhaço, o humorista’ e não a figura da ‘vida real’, que neste caso, muito dos votantes sequer o conhecem.
Sua escolha é assegurada pela democracia, entretanto, convenhamos constitui um imbróglio, algo sui generis que no futuro precisa ser melhor definido pelas instituições eleitorais competentes
A propósito, o que ele poderá fazer de diferente e importante no Congresso Nacional se o mesmo afirma categoricamente na sua propaganda que não sabe o que faz um deputado?
Quem será eleito? O cidadão ou o personagem que é uma criação, que está por trás, atuando, inclusive durante a campanha. Quais suas propostas? Que ideologia e que diretrizes programáticas propõe o seu partido? Que idéias defenderá?
O mais triste é saber, que Tiririca não é o primeiro e, tampouco o único. Uma evidencia de que a sociedade brasileira precisa ser politizada e educada para não cometer maiores desatinos na hora que for votar.
Portanto, como assistir calado sem demonstrar uma pontinha de indignação diante de votações estrondosas e escolhas curiosas que fazem do ato de votar, uma mera brincadeira. Ou quem sabe uma piada de mau gosto. Um fato sem importância...
Entretanto, podemos dizer que pelo país inteiro em todas as eleições é possível se verificar, exemplos escabrosos de escolhas que beiram os limites da infantilidade.
Em Fortaleza só para lembrarmos, algum tempo atrás, tivemos escolhas deste naipe. Será que tudo isso acontece por simples falta de melhores opções. Claro que não. É por pura ignorância mesmo. Tudo isso somado ao descompromisso com a cidadania e a quase total ausência de um mínimo de bom senso e de responsabilidade com o amanhã.
Cultura e educação fazem muita falta nestes momentos cruciais em que a sociedade é chamada pela democracia para mudar o seu destino por meio do voto livre e soberano.
Os que agem desta maneira, ou seja, são alheios a verdadeira importância que tem o voto, certamente reproduzem e perpetuam a situação. Estão a serviços das elites, assim como de todos os que não acenam com as mudanças e a visão moderna e desenvolvimentista do chamado país do futuro.
É preciso, portanto, que valorizemos a instituição do voto livre como um direito inalienável do cidadão. Vê-lo num retrospecto histórico. Quando em outros tempos não muito distantes; gerações inteiras foram obrigadas a assistir calada os desmandos e a opressão daqueles que se diziam lhes representar nas várias instâncias do poder. Até que não mais agüentando tal estado de coisa uma pequena parcela da sociedade resolveu se rebelar. E a partir dali nascia a democracia fazendo florir o estado de direito e o direito de se votar livremente.
Mas isso não foi nada fácil. Nada disso aconteceu do dia para a noite. Nada disso nos foi dado de mão beijada.
A democracia foi uma construção histórica, paulatina e sofrível. Um edifício de direito erguido com o suor do rosto, ousadia, combatividade, sangue e lágrima dos que nunca tiveram medo de lutar por acreditar nas suas utopias e num futuro diferente para o Brasil. Muitos deles pagaram com a própria vida a concretização deste sonho para que os do futuro tivessem nas mãos o sagrado direito de poder votar. A liberdade de poder se expressar e escolher o que há de melhor para dirigir seu destino. Então, é no mínimo lamentável o que estão fazendo com o voto popular. Uma conquista história que não aconteceu por acaso... Todavia, como somos uma nação sem memória. Ao que parece nada deste passado de luta, opressão e combatividade não importa muito.
Votar consciente é a única certeza que temos de um futuro melhor para todos. Portanto, não podemos sob nenhum argumento fazer do voto uma coisa insignificante.
Porque o voto de tão valoroso não tem preço. O preço do voto é toda a consciência que dedicamos a ele no momento da escolha.
(*)José Cícero
Aurora - CE.
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Foto Ilustrativa: entretenimento.br.msn.com/famosos/noticias-ar

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