terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Uma Louvação ao Salgado, o rio mais doce do mundo*

O meu imenso rio interior ...
Por José Cícero
Amo este rio, com a mesma intensidade com que cultuo dentro de mim a beleza natural das coisas simples, alimentando o dom de ser feliz e de se acreditar na vida e na natureza como um milagre inigualável de Deus.
Sinto-o pulsando em minhas veias com suas correntezas poderosas e seus ares de gigante.
Sinto-o na boca como fruta doce tirada ali mesmo das árvores sombrosas e frescas adornando suas ribanceiras.
Plena água saciando a sede dos destemidos caminhantes Cariri adentro.
Sangue ancestral que me alimenta a alma assim como impulsiona o gesto e o espírito.
De algum modo estranho, também o tenho em minhas mãos como quem carrega um límpido jarro de água-de-cheiro, a guisa de presente a ser oferecido à celebração dos deuses que habitam suas nascentes.
Como este rio também tenho pressa de viver e conhecer todas as fronteiras do planeta. E diante delas, toda a minha angústia, há muito é este desejo compulsivo de sempre partir e de querer chega. Fluir intermitente de teimoso aventureiro cosmogônico, rasgando fundo com seus dedos e dentes o oco do mundo.
Desejos absurdo e incontido de romper o impossível que me prende a estes rincões solitários dos que foram esquecidos pelo tempo presente e o tempo futuro.
Como este rio, também sinto esta vontade louca de seguir sempre em frente e de quere ser mar. Sentimentos hídricos. Hídricas lágrimas de contentamentos. Caminhos do sem-fim...
Oceanos profundos a se estenderem como um imenso espelho d’água. Lascas incomensuráveis de puro vidro em sua liquidez a se derramar por sobre as fímbrias dos nossos sonhos mais antigos e mais distantes.
Pulsão de quase morte a me consumir por dentro. Visão holística e biodiversa que carrego junto ao peito. Cachoeiras de utopias em suas nebulosas mais fantásticas. Claras águas a se derramarem num turbilhão de ansiedades e fantasias do meu eterno querer: ser pássaros errantes e nos píncaros das montanhas araripenhas me (re)encontrar.
Voar... Voar bem alto por sobre o Nebo da minha própria condição de acreditar nos sonhos que um dia eu tive e não conseguir realizar. Intensos arroubos de jovens ciganos. Moleques circenses nas suas aventuras de viajar.
Sonhos de Ícaro... eterno caminhar por entre as nuvens. Eterno mar nadando por si mesmo tomando banho dentro do rio que amo e que trago comigo desde quando vim ao mundo pela primeira vez.
Este rio interior que tenho no fundo do meu íntimo é todo um sentimento de nunca desistir. Um novo jeito deslumbrado de viver que tenho. Mar imenso a encher meus olhos. Universo aquático de felicidade em que vivo tão sem medo.
Sentimento afirmativo de sempre acreditar na arte do encontro e de estar sempre pronto para recomeçar.
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* José Cícero
Sec. de Cultura
Aurora-CE
In Abstrações do Acaso/09
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Foto: do Rio Salgado(Ponte-sede) JC


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