Casarão do sítio Mel no Tipi onde viveram os descendentes de Marica Macedo |
"Foram elas matriarcas
semi-lendárias, proprietárias de terra e gado no interior do sertão longe das
pretensões fidalgas das Casas Grandes da zona açucareira. Levavam uma vida
rústica relativamente distante dos padrões culturais europeus que, na época,
moldavam as sociedades do litoral nordestino. No sertão, exerciam grande poder
de liderança, tendo controle total de seus feudos regionais".
In Rachel de Queiroz e Heloisa Buarque de Hollanda
Pracinha central em frente a capela no distrito de Tipi |
Num tempo em que a figura da mulher invariavelmente era
sinônimo de submissão, dado um regime patriarcal que praticamente a relegava a
uma posição inferior não apenas nos sertões nordestinos.
Porquanto, seu papel social era, por assim dizer, quase que
exclusivamente familiar, ou seja, apenas o de gerar filhos aos seus varões e dá
conta dos afazeres domésticos.
Mas eis que, contrariando esta regra, nos sertões do
Cariri cearense surgiram duas mulheres que logo passariam à história como personagens que desafiariam os padrões, assim
como a arrogância dos chamados coronéis. Mas também os imitariam em seus modus operandi trazendo para si o status quo de toda uma época no que tange ao seguimento à risca da velha cartilha atinente a lida sertaneja.
Duas mulheres ousadas e
valentes. Duas matriarcas, cuja coragem e determinação as fizeram poderosas, temidas
e respeitadas, inclusive pelos potentados de então. Tanto que suas ordens, palpites e conselhos tinham em seus
territórios, verdadeira força de lei.
Trata-se de Fideralina Augusto Lima em Lavras da Mangabeira e Maria da Soledade
Landim – ‘Marica Macedo’ do Tipi em Aurora. Tão famosas que até hoje, muitos
ainda se admiram diante dos seus feitos e suas histórias. ao passo que alguns até as chamam de “os coronéis de saia” do Cariri.
Mas, o certo é que, sem ranço de qualquer medo, ambas foram consideradas mulheres do seu tempo.
De tão notórias e palpitantes as história e estórias relacionadas a estas
duas bravas sertanejas, ainda agora extrapolam as fronteiras do do Cariri e do Nordeste em geral.
E suas narrativas de fatos, casos e causos quase sempre
se aproximam (dada a popularidade), as do próprio Lampião, Bárbara de Alencar, Conselheiro,
Zé Lourenço e Padre Cícero, que, resguardadas as devidas proporções, têm
conseguido projetar os nomes destes rincões, muito além das fronteiras do
mundo.
O que por sua vez, também remete, talvez pela ocorrência
temporal da época, a própria história marcante do cangaço e dos jagunços que
pulularam durante décadas por estas bandas do Cariri cearense. Histórias e
estórias que igualmente fazem parte do imaginário popular sertanejo, assim como
do próprio folclore da região. Acontecimentos espetaculares que definitivamente
ocuparam com folga o seu lugar na história do Ceará.
Mandonas e autoritárias, mesmo assim alguns as tem como verdadeiras heroínas. Porém, o certo é que malgrado qualquer polêmica, cada uma
delas ao seu tempo e ao seu jeito encarnaram a valentia e a altivez humana como
mais um mecanismo de superação e sobrevivência num contexto de ingentes
injustiças, opressão e contrariedades de toda sorte.
Num cenário em que todas as variantes lhes eram
contrárias. Além das injunções sociopolíticas de então que tinham tudo para as
colocarem ao rés do chão, conquanto, sem nenhuma chance real de liberdade e
independência fazendo com que seus nomes se perdessem como tantas outras, nas
brumas escuras do tempo e da história, no mais das vezes escrita pelos vencedores.
Mas não foi exatamente isso que ocorreu. Fideralina e
Marica escreveriam sua própria história e de um jeito realmente inusitado e
diferente. Rompendo assim os velhos padrões de toda uma época de supremacia machista.
Ficaram eternizadas nas longas e inesquecíveis narrativas da boa verve sertaneja.
Elas simplesmente fizeram história. E a história que
fizeram com as próprias mãos até agora permanece quase indelével na memória do Cariri.
Foram,
portanto, como se percebe, mulheres que se situaram muito além do seu tempo. De modo que, mesmo entre polêmicas, controvérsias, saias, anáguas, véus e bacamartes
esta história sobreviveu, e a duras penas conseguiu chegar até nós. E, em nome das gerações futuras haveremos de preservá-la.
Imagem de Fideralina Augusto |
Seminário Cariri Cangaço: Aurora e Lavras...
Destarte, quem acaso desejar conhecer um pouco mais sobre
a esta verdadeira odisséia sertaneja, protagonizada por duas 'amazonas dos
sertões', que venham conferir de perto todas as discussões relativas ao Cariri
Cangaço 2013 que acontecerá de 17 a 22
de setembro em várias cidades desta região.
Além da avant premier, que será celebrada dias 18 e 19 de maio em
Lavras da Mangabeira, cuja palestra será feita pelo Dr. Dimas Macedo, por sinal
parente da matriarca lavrense. E dia 20 de setembro do 3º Seminário Cariri
Cangaço, edição de Aurora; sobre a incrível história de Marica Macedo, proferido
pelo Dr. Vicente Landim de Macedo – neto da brava aurorense do Tipi.
E tem
mais: As prévias do Cariri Cangaço ocorrerão ainda na Paraíba precisamente nas cidades de Sousa e
Nazarezinho, assim como nas históricas Piranhas e Canindé de São Francisco no Estado de
Sergipe.
É bom sabe. Razão porque eu participo e também recomendo.
Venham todos dividir conosco mais um Cariri
Cangaço – O grande momento de profundo
reencontro de Aurora, Lavras, o Cariri e o Nordeste com a sua própria história. Por sinal, uma história que não quer calar...
.......................
(*) José Cícero
Pesquisador do Cangaço
Conselheiro do CC
Secretário de Cultura e Turismo
Aurora – CE.
Fotos: Arquivo e da Internet
LEIA MAIS EM:
e no Faceboo
2 comentários:
Grande artigo confrade José Cícero, sensacional, parabens ! E que venha o Cariri Cangaço !
Grande artigo confrade José Cícero, sensacional, parabens ! E que venha o Cariri Cangaço !
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