quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um Poema Chamado Cangaço: 80 anos da passagem de Lampião por AURORA*

Por José Cícero
A Saga de Aurora: Trama e fuga após a invasão de Mossoró
Virgulino - Lampião rei o cangaço.
Forasteiro amigo
da Aurora de Izaías e Massilon.
Bando reunido, conluio armado.
Traçando os planos para o conflito
com vistas à invasão de Mossoró.
Virgulino - Lampião rei do cangaço.
Homem sabido, corpo fechado.
Fanático do padre Cícero,
vaqueiro-almocreve. Rei não coroado
justiceiro sertanejo, herói ou bandido.
Bandoleiro, líder magno.
Che Guevara dos sertões adentro
que pela única vez na vida
se deixou guiado por Massilon
Seu comandado.
Um falastrão aventureiro.
Encantado pelas armas e o dinheiro
financiado pela logística do poder político
do arguto coronel esperto:
Izaías Arruda - seu traidor danado.
Sócio do crime endereçado.
Projeto aventureiro, tramado ali mesmo
na Ipueiras da Aurora arquitetado.
Lampião - rei do cangaço
Que por algum motivo foi enganado
ante a falácia de um subalterno.
Benevides: mancomunado com outros bandidos
Alguns togados,
com as insígnias de três Estados.
Lampião - rei do cangaço
Que estranhamente se deixou levado
Pelo engodo de um falastrão.
Em detrimento da experiência
E do seu instinto guerrilheiro.
Profundo conhecedor dos caminhos
de todos os sertões do mundo
E dos grotões desérticos dos matos.
Massilon , Zé Lúcio, Três Pancadas,
Zé de Roque e Chubim;
Bandoleiros das Antas daqui.
De Izaías Arruda - o coronel.
Perspicaz e interessado.
Massilon Leite um dos artífices da invasão de Mossoró tramada na Ipueiras d'Aurora
Quando enfim o bando abastecido
Com todo o dinheiro investido
E armas de Arthur Bernardes
Seguiu em frente na direção do Norte,
buscando afogar em sangue
a resistência do rio grande.
Da Mossoró desenvolvida
às fimbrias do Apodi.
Cheirando fortuna ao alcance da mão.
Tudo seria facílimo para Massilon.
Ledo engano dos covardes!
Rodolfo Fernandes - o prefeito
Não permitiria.
Mossoró não seria
O que foi a vila de Apodi
e outros que se renderam fácil.
Tampouco, o tal prefeito pagaria
Qualquer que fosse a quantia
Porque sua cidade seria
do mesmo jeito assaltada.
Assim era o plano de Massilon e Izaías.
E quando na hora dada, por trás do cemitério
O bando iniciava sua marcha
Seria um ataque fácil...
Como dissera Massilon na sua fantasia.
Conhecia de côr todo o pedaço...
Trabalhou por ali um dia.
Foi caixeiro viajante. Negociador esperto.
Porém, uma chuva abrupta e torrencial
Poria por terra o intento, o plano.
Facilitando a resistência do alcaíde mossoroense.
Volantes perseguidoras de Lampião do Sítio Ribeiro d'Aurora 1927
Um silêncio profundo,
tomara por fim o ambiente
Além da ruazinha do velho cemitério abandonado.
Algo estranho naquele lugarejo.
Aguardava a chegada do funesto bando.
Coisa que a lábia de Massilon não contaria.
De repente, de balas uma saraivada
Deu as boas-vindas aos cangaceiros.
A chuva agora não mais era líquida
Era fogo quente de projéteis riscando o ar.
Para onde quer que se fugisse.
Sabino achou estranho
quando viu Jararaca ferido se ajoelhar
pintando o solo riograndense de vermelho
Sangue cangaceiro, disse ele,
A se derramar primeiro numa briga
É um mau presságio.
justamente para quem estava acostumado
Com os confrontos do espinhento mato
E as pedreiras íngremes da caatinga em brasa
Contra as volantes dos macacos enlouquecidas
Entre espinhos dos xiquexiques imperdoáveis.
Mas não tinha jeito,
A cena seguia seu rumo como um filme
ensaiado para uma cidade em abandono.
Na retaguarda Lampião, o chefe, com seu rifle cano longo
sobressaltado aumentou seus passos
entre Xexéu e Rouxinal.
Não acreditava no que assistia.
Sentiu o drama estranho. Uma sensação inusitada
para o seu currículo de capitão do mato.
Pressentiu os sinais de um fracasso.
E após quase uma hora de confronto
Gritou alto para os da frente:
- Vamos embora cambada!
Todos em seguida bateriam em retirada.
Queriam agora salvar suas vidas.
A batalha de Mossoró estava enfim, perdida e terminada.
Caía ali por terra, além de Jararaca e Colchete.
O velho mito do Lampião cangaceiro
Corpo fechado, invencível.
Virgulino a partir daquele episódio histórico
seria de carne e osso. Mortal como qualquer um.
Pela primeira vez na vida fora desmoralizado
Numa luta que não desejava para si
Porque disseram que seria fácil.
Uma água dormida do pote.
Ele, mais do que os outros seus comparsas.
Sentiu o peso daquela derrota multiplicada.
o preço da derrota, todavia seria maior:
a perseguição continuada.
Agora de três Estados em auforia.
não lhe dariam trégua. E como um cão danado
seguiam em seu encalço noite e dia.
Um carrapato sugando sua virilha.
Um fantasma da própria morte que se via.
Depois do malogro, o bando sofreu o diabo
Correria léguas tiranas...
Cel. Izaías Arruda da Ipueiras d'Aurora um dos maiores coiteiro de Lampião do Cariri
Teria agora que poder o que nunca tinha podido.
Enfrentar o inimigo, os macacos,
Numaa desproporção numérica absurda
De 1 cangaceiro para 40 soldados.
Além de não poder mais contar
Com antigos aliados: Os coiteiros do Cariri:
- antigo refúgio dos seus comandados.
Agora a sapiência de Virgulino – o capitão do mato;
exímio estrategista conhecedor dos sertões
seria posta mais uma vez em xeque.
Dela dependeria a sua vida
E a sobrevivência do seu bando.
Virgulino - O Lampião.
Agora, perseguido e encurralado,
Por todos os lados e, por onde quer que olhasse
Sentiu na pele o princípio de um longo processo de covardia.
E o começo das deserções que se seguiam.
A partir do próprio lapso de Massilon
Com seu subgrupo de facínoras.
Em seguida, outros jagunços.
Mas o capitão não procurou culpados.
Com o bando seriamente reduzido
Lampião fora impedido
De seguir para seu Estado.
Voltou para o Ceará imaginando
a velha proteção dos seus amigos,
Coiteiros: Antonio da Piçarra, Santana e Izaías.
Ipueiras da Aurora seria seu refúgio por alguns dias.
Ledo engano!
O coronel Arruda sabendo da derrota
estava agora do lado da volante.
Num acordo espúrio fechado em Fortaleza
Quando o governo lhe prometera
Sanar suas dívidas, perdoar seus crimes
E uma bonificação de 50 contos na algibeira.
Izaías agora poria seus 87 jagunços
à serviço da ordem dominante,
sob o comando do major Moisés de Figueiredo,
O seu parente.
Chegou na estação do trem eufórico com o lucro
Mais do que havia perdido quando se associou
investindo na malograda invasão daquele grupo.
Lampião por sua vez chegava n’Aurora
Agora com seu bando diminuto,
Estropiado, famélico, ferido e cansado.
Mas, tendo vencido heroicamente todos os confrontos.
Que se seguiram desde o rio grande e Limoeiro.
Enfrentando de igual para igual
um verdadeiro exército bem armado e alimentado
em suas montarias.
Composto por soldados de três estados: Ceará, Paraíba e Rio Grande.
Além de toda a jagunçada
Dos oportunistas potentados da região
que se debandaram para o outro lado.
Não por justiça, porém por puro casuísmo,
e outros interesses político-financeiros.
Mesmo pequeno sob seu comando
o bando lampiônico era imbatível.
E todos acreditavam nisso.
Razão pela qual, os ânimos dos seus apaninguados
não foram de tudo atingido. Lampião adentra Aurora quando no limite de Lavras
Na serra de Várzea Grande vence de novo outro confronto.
Seguido do Ribeiro no riacho do bordão de velho.
Novamente a volante é derrotada
Sob o comando do major Moisés em desespero.
Mas de 400 macacos contra vinte e poucos cangaceiros.
Para enganá-los Lampião foi ajudado pelos Penitentes
Com seus 'hábitos' inexpugnáveis
lá para as bandas do Ribeiro sítio,
conseguindo passar com o seu bando
no meio dos soldados sem ser notado.
Um mistério que aumentaria sua lenda
Da sua invisibilidade, corpo-fechado;
pelas rezas fortes e a devoção ao padre Cícero.
Chegando a Ipueiras de Zé Cardoso e Izaías.
Convidado que foi para um banquete
regado a vinho do padre e a boa aguardente do brejo.
Comida envenenada com cianeto.
Descoberto a tempo por seu tino, o engodo,
Virgulino ordena o ataque aos presentes:
Soldados e jagunços disfarçados.
Um número grande escondido para o cerco.
Lampião agiu primeiro...
Sem sucesso Izaías autoriza o incêndio
E a capoeira de algodão já seco
Transforma-se num inferno em brasa.
O vento favorece o fogo
Levando-o em direção dos soldados.
Ouvem-se gritos de todos os lados
O bando foge pela parede do açude.
Alguns ficaram para trás feridos,
nem tanto pelas balas dos inimigos,
Mas pelas chamas ardentes do mato seco.
Os bandoleiros gritavam: - Viva padre Cícero!
Lampião ironizava dizendo: - “Não sou preá para morrer queimado!”
- “Isaías, seu covarde!”.
Depois, ruma para a serra do Coxá onde se refugiaria.
O difícil acesso garante tranqüilidade
O bando descanso ali no Diamante por alguns dias.
Enfurecido o rei do cangaço,
ganharia a partir daquele instante, mais um inimigo.
O coronel de Aurora: o prefeito de Missão Velha - Izaías...
Foto rara do bando de Izaías Arruda tirada em Ingazeiras em 1926
Depois, ainda em Aurora, Lampião
realiza um zig-zag deixando os soldados ainda mais perdidos
dando um banho de ludíbrio nas volantes.
Que andando em círculo se dirigem para as bandas do Araripe.
Virgulino – o capitão guerreiro
Cruza o rio Salgado, a linha de ferro, a serra do Góes e dos Quintos
Na direção oposta dos seus perseguidores.
Depois retornou ao Morro Dourado, Malhada Funda, Brandão e Jatobá.
Vazante, Lagoa do Mato, Ingazeiras, Barro Vermelho.
Até atingir Milagres pelas minas do Coxá, Morro Dourado e Diamante.
Adentrado a Paraíba pela serra de Santa Inês
Nos rumos de Conceição.
Até finalmente alcançar Pernambuco, seu Estado.
Foi a última vez que Lampião viera a Aurora.
Há exatos 83 anos.
A primeira foi em 25: Monte Alegre, Pau Branco e Tipi.
Por aqui sua memória viva continua
Uma figura que a nossa história não esquece.
Provando que o seu mito ainda é forte
Sua lenda um instrumento que mais fortalece
A historiografia dos sertões do Norte
Bandido ou herói? Isso pouco importa.
O que vale foi o homem que fizera história.
Personagem de uma saga de vida e morte.
Quando do seu jeito resolveu se rebelar
Contra as injustiças de um tempo
Que não quer passar.
Sertão sem lei ante a ausência do Estado.
Por tudo isso foi o cangaço
um fenômeno social. Um fato histórico. Um requinte...
E Lampião, rei do cangaço personagem-centro.
Figura hercúlea deste movimento
Que com sua luta, coragem e ousadia
marcara para sempre o século XX.
(*) Prof. José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora - CE.
LEIA MAIS EM:
www,blogdaaurorajc.blogspot.com

2 comentários:

Unknown disse...

Gostaria de parabenizar o nosso conferencista maior do 2º Cariri Cangaço, o Já Conhecido Secretário de Cultura em Aurora, Prof. José Cicero da Silva, que na manhã do dia 21 de agosto,2010 estará de maneira garbosa e certeira levando a lume para todos os participantes as fiés pegadas do rei do cangaço em Aurora, -Lampião em Aurora - 80 anos /oportunidade em que será lançada a Revista Aurora./
Como O José Cicero é também um grande poeta, já para nós, que brindamnos a arte literária, podemos dimensionar neste seu poema literário o rastro de força que emana, hoje no verso, no dia 21 de agosto no brilho de expressão de quem sabe fazer: seja em proza, seja em poesia.

Aurora está de parabéns
Grande secretário !! !

Unknown disse...

Gostaria de parabenizar o nosso conferencista maior do 2º Cariri Cangaço, o Já Conhecido Secretário de Cultura em Aurora, Prof. José Cicero da Silva, que na manhã do dia 21 de agosto,2010 estará de maneira garbosa e certeira levando a lume para todos os participantes as fiés pegadas do rei do cangaço em Aurora, -Lampião em Aurora - 80 anos /oportunidade em que será lançada a Revista Aurora./
Como O José Cicero é também um grande poeta, já para nós, que brindamnos a arte literária, podemos dimensionar neste seu poema literário o rastro de força que emana, hoje no verso, no dia 21 de agosto no brilho de expressão de quem sabe fazer: seja em proza, seja em poesia.

Aurora está de parabéns
Grande secretário !!