quinta-feira, 20 de junho de 2013

Artigo de Opinião: Um Protesto diferente abrindo os olhos do Brasil

José Cícero

Todos os que cultivam de algum modo os valores democráticos hão de estar contentes, além de entusiasmados em ver o povo nas ruas em protesto(que se imagina  pacífico), fazendo uso do seu direito à liberdade de livre manifestação.  Gentes de todas as classes e idades reivindicando legítimas melhorias para à sociedade. Mas não é só isso...
Muito mais alegres, certamente, estarão os que de algum modo, noutros tempos ainda mais difíceis, lutaram e resistiram bravamente contra a ditadura e os excessos dos anos de chumbo. Os que tiveram que arriscar a própria vida para que hoje, esta geração(meio que apolítica) pudesse usufruir desta conquista histórica chamada liberdade, alicerçada na democracia e no estado de Direito.
Algo que, diga-se de passagem, não foi assim tão fácil. Sendo o resultado de uma longa batalha contra os leões sanguinolentos  da ditadura militar. Muitos destes bravos combatentes não estão mais aqui para testemunharem este momento assaz afirmativo do século XXI. Posto que foram covardemente assassinados pela repressão. Razão pela qual é  justo que pelo menos, as novas gerações, possam quem sabe, cultivar as suas memórias.
Contudo, é preciso avaliar com calma este atual momento de protesto, por que passa a  maioria das grandes e médias cidades brasileiras, sobretudo pelo  que este movimento apresenta de inusitado, novo e diferente em se tratando de luta  social. Algo quase sem nenhum paralelo na história recente do  Brasil.
Não cabendo, portanto, nenhum tipo de análise apressada sob a ótica da velha padronização sociológica.  Quase sempre baseada em outros acontecimentos  pregressos  da vida brasileira.
Notadamente, por se tratar, (pelo menos superficialmente), num movimento apartidário, sem lideranças formais e ‘desideologizado’. O que não se pode considerá-lo ‘apolítico’ na sua essência e, tampouco sem um ideal de bandeira. Mesmo sendo possível perceber um certo ‘oba-oba juvenil’ em cujo mesmo muitas ‘raposas com pele de carneiro’ estão de certa maneira, a pegar carona. Mesmo sem  poderem   estar lá no meio do povo, por uma série de razões. Dentre as quais o fato de apoiarem ou fazerem parte dos governos. Ou mesmo porque um dia já estiveram lá...
Curiosamente não se é possível sequer conceituar este movimento como de direita, de esquerda ou de certo. Muito menos de elite, pobres ou miseráveis.
Talvez por estas imperceptíveis  nuances é que corre o risco de se tornar inegociável do ponto de  vista do diálogo e da  própria pauta  reivindicatória comum a qualquer movimento políticosocial.
Sem um direcionamento cerebral torna-se inapelavelmente uma porta aberta para que vândalos, oportunistas de plantão, baderneiros e outros tipos sem escrúpulos possam se infiltrar desqualificando-o perante a opinião pública.
Dando margem para que muitos, inclusive a imprensa, não venham a descaracterizar sua base legal, bem como o seu alto caráter de legitimidade democrática.  Como de resto, urge que não se torne brincante, trivial irresponsável e violente.
Portanto, não é sequer razoável a afirmação de que tal movimento de protesto reside apenas no fato  da mera Redução das Tarifa dos transportes coletivos, mas sim no interesse pleno da democracia, como também na defesa de outras melhorias e direitos sociais. Além da ojeriza popular contra a corrupção desenfreada, a violência, a impunidade, a desigualdade, a falta de maiores investimentos em setores como educação, saúde, transporte, bem como pelos altos valores gastos com  a realização da Copa, dentre outros.
Coisas que, por conta da contradição dos altos custos financeiros empregados nas construções dos Estádios para a Copa do Mundo, deixou o governo, como se diz, em maus lençóis. E  olha que Havelange e Teixeira nem estão mais lá... Por fim, o protesto é legítimo. Em linhas gerais, há, entretanto,  que se fazer valer a democracia.
Porém  em nome da cidadania é  preciso respeitar a ordem, a lei e a garantia da segurança pública ante o direito de ir e vir. Como igualmente, a preservação do patrimônio, das instituições e dos espaços público.
O protesto acima de tudo é uma evidência gritante de que muita coisa precisa ser melhorada neste país das “ mil maravilhas televisivas”, além da necessidade de se fazer valer outras garantias na esfera social como um todo. Assim como a ampliação das mudanças e a  ética na política.
É urgente, portanto, refletir sobre tudo isso, assim como se ouvir e respeitar as vozes das ruas. Mesmo sabendo que o grande protesto terá que ser travado nas urnas, durante as sucessivas eleições que acontecem neste país.

Um protesto que põe a nu perante a nação e o mundo, quão  frágil e falso são as coisas  do chamado mundo da política e da economia, no mais das vezes mostrados por números artificiais pela janela colorida da grande mídia. Numa inversão de valores, cujos resultados estão virando uma bola de neve, numa notória contradição ante os valores da desigualdade e a própria  consolidação dos direitos democráticos.
Destarte, diante desta dura realidade quase invisível e, nem sempre dita, vivenciada, sobretudo pela classe trabalhadora a redução de tarifas é, no mínimo, uma fagulha neste perigoso barril de pólvora. De modo que, se engana quem acaso imaginar que com a ampliação do Bolsa Família tudo poderá ser resolvido num passe de mágica.
O Brasil é muito maior que tudo isso. Assim como a força do povo, às vezes poderá mover montanhas.
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Por: José Cícero
Aurora - CE

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