Todos os que cultivam de
algum modo os valores democráticos hão de estar contentes, além de entusiasmados
em ver o povo nas ruas em protesto(que se imagina pacífico), fazendo uso do seu direito à
liberdade de livre manifestação. Gentes
de todas as classes e idades reivindicando legítimas melhorias para à sociedade.
Mas não é só isso...
Muito mais alegres, certamente,
estarão os que de algum modo, noutros tempos ainda mais difíceis, lutaram e
resistiram bravamente contra a ditadura e os excessos dos anos de chumbo. Os
que tiveram que arriscar a própria vida para que hoje, esta geração(meio que
apolítica) pudesse usufruir desta conquista histórica chamada liberdade,
alicerçada na democracia e no estado de Direito.
Algo que, diga-se de
passagem, não foi assim tão fácil. Sendo o resultado de uma longa batalha contra
os leões sanguinolentos da ditadura
militar. Muitos destes bravos combatentes não estão mais aqui para
testemunharem este momento assaz afirmativo do século XXI. Posto que foram
covardemente assassinados pela repressão. Razão pela qual é justo que
pelo menos, as novas gerações, possam quem sabe, cultivar as suas memórias.
Contudo, é preciso avaliar
com calma este atual momento de protesto, por que passa a maioria das grandes e médias cidades
brasileiras, sobretudo pelo que este
movimento apresenta de inusitado, novo e diferente em se tratando de luta social. Algo quase sem nenhum paralelo na
história recente do Brasil.
Não cabendo, portanto,
nenhum tipo de análise apressada sob a ótica da velha padronização sociológica. Quase sempre baseada em outros acontecimentos pregressos da vida brasileira.
Notadamente, por se
tratar, (pelo menos superficialmente), num movimento apartidário, sem
lideranças formais e ‘desideologizado’. O que não se pode considerá-lo ‘apolítico’
na sua essência e, tampouco sem um ideal de bandeira. Mesmo sendo possível
perceber um certo ‘oba-oba juvenil’ em cujo mesmo muitas ‘raposas com pele de
carneiro’ estão de certa maneira, a pegar carona. Mesmo sem poderem estar
lá no meio do povo, por uma série de razões. Dentre as quais o fato de apoiarem
ou fazerem parte dos governos. Ou mesmo porque um dia já estiveram lá...
Curiosamente não se é
possível sequer conceituar este movimento como de direita, de esquerda ou de
certo. Muito menos de elite, pobres ou miseráveis.
Talvez por estas
imperceptíveis nuances é que corre o
risco de se tornar inegociável do ponto de
vista do diálogo e da própria
pauta reivindicatória comum a qualquer
movimento políticosocial.
Sem um direcionamento
cerebral torna-se inapelavelmente uma porta aberta para que vândalos,
oportunistas de plantão, baderneiros e outros tipos sem escrúpulos possam se
infiltrar desqualificando-o perante a opinião pública.
Dando margem para que
muitos, inclusive a imprensa, não venham a descaracterizar sua base legal, bem
como o seu alto caráter de legitimidade democrática. Como de resto, urge que não se torne
brincante, trivial irresponsável e violente.
Portanto, não é sequer
razoável a afirmação de que tal movimento de protesto reside apenas no fato da mera Redução das Tarifa dos transportes
coletivos, mas sim no interesse pleno da democracia, como também na defesa de
outras melhorias e direitos sociais. Além da ojeriza popular contra a corrupção
desenfreada, a violência, a impunidade, a desigualdade, a falta de maiores
investimentos em setores como educação, saúde, transporte, bem como pelos altos
valores gastos com a realização da Copa,
dentre outros.
Coisas que, por conta da
contradição dos altos custos financeiros empregados nas construções dos Estádios
para a Copa do Mundo, deixou o governo, como se diz, em maus lençóis. E olha que Havelange e Teixeira nem estão mais
lá... Por fim, o protesto é legítimo. Em linhas gerais, há, entretanto, que se fazer valer a democracia.
Porém em nome da cidadania é preciso respeitar a ordem, a lei e a garantia
da segurança pública ante o direito de ir e vir. Como igualmente, a preservação
do patrimônio, das instituições e dos espaços público.
O protesto acima de tudo é
uma evidência gritante de que muita coisa precisa ser melhorada neste país das “
mil maravilhas televisivas”, além da necessidade de se fazer valer outras
garantias na esfera social como um todo. Assim como a ampliação das mudanças e
a ética na política.
É urgente, portanto,
refletir sobre tudo isso, assim como se ouvir e respeitar as vozes das ruas.
Mesmo sabendo que o grande protesto terá que ser travado nas urnas, durante as
sucessivas eleições que acontecem neste país.
Um protesto que põe a nu
perante a nação e o mundo, quão frágil e
falso são as coisas do chamado mundo da política
e da economia, no mais das vezes mostrados por números artificiais pela janela colorida
da grande mídia. Numa inversão de valores, cujos resultados estão virando uma
bola de neve, numa notória contradição ante os valores da desigualdade e a
própria consolidação dos direitos
democráticos.
Destarte, diante desta dura
realidade quase invisível e, nem sempre dita, vivenciada, sobretudo pela classe
trabalhadora a redução de tarifas é, no mínimo, uma fagulha neste perigoso
barril de pólvora. De modo que, se engana quem acaso imaginar que com a
ampliação do Bolsa Família tudo poderá ser resolvido num passe de mágica.
O Brasil é muito maior que tudo
isso. Assim como a força do povo, às vezes poderá mover montanhas.
----------------------------
Por: José Cícero
----------------------------
Por: José Cícero
Aurora - CE
Foto: Da Internet
LEIA MAIS EM:
e no Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário