sábado, 24 de outubro de 2015

PENITENTES de Aurora rezam 'terço' na sepultura da filha do Cel. Xavier no sítio Tunga*

À Convite da secretaria de cultura do município grupo de Penitentes  reza terço na suposta sepultura de Carminda - filha do cel. Xavier(fundador da cidade) no sítio Tunga.

A convite da secretaria de Cultura e Turismo do município o grupo de penitentes da ordem santa cruz de Aurora realizou na noite desta sexta-feira(23) mais um ritual religioso, denominado de "alertai" ou mais popularmente conhecido como: O terço dos penitentes. Desta feita, na suposta sepultura da filha do coronel Fco. Xavier de Sousa - o fundador da cidade, cuja catacumba ainda se encontra relativamente preservada no sítio Tunga a cerca de 7 km da sede. 
"Desde que localizamos a antiga sepultura em plena caatinga há quase uma década quando fazíamos pesquisas de campo para à Revista Aurora, que alimentei o desejo de trazer os penitentes para rezar neste local. Por isso nosso entusiasmo diante deste momento onde se misturam num só espaço história, tradição e religiosidade com o sagrado contido neste ritual antigo, quiçá medievo dos penitentes aurorenses. Trazido para estes rincões pelo padre Ibiapina e Padre Cícero. 
Um verdadeiro patrimônio imaterial dos sertanejos. Algo portanto que precisa de resgate, preservação e continuidade", disse o secretário de cultura, o professor José Cícero que conduziu o grupo para à celebração noturna.

"Diria que, além da beleza dos benditos, litanias e  ladainhas cantadas pelo grupo foi bastante animador constatar que há um novo e promissor sopro de vida na irmandade, dada a presença de alguns jovens no grupo, fruto do trabalho e da luta persistente do decurião-chefe  o Sr. Geraldo Caboclo residente no sítio Cobra  Ele que por mais de 60 anos compõe  o que eles próprios denominam de "irmandade".
Na noite desta sexta-feira o grupo veio formado por um total de vinte integrantes alguns da sede e a maioria residente na zona rural, principalmente nos sítio Cobra e Salgadinho. 
Há um verdadeiro encanto sobretudo para os que assistem o "terço" pela primeira vez. A forma harmoniosa como todos executam os cantos, as rezas e oblações carregadas de estranhamento o que mais parecem coisas vindas da idade média. Os brancos  roupões cumpridos adornados por cruzes e o sagrado coração em vermelho cor de sangue. A túnica que com suas longas abas chegam a esconder os rostos de cada um. Os vultos misteriosos a se perderem na escuridão dos sertões da Aurora na busca dos cruzeiros solitários e abandonados na beira das estradas. Onde os integrantes do grupo se estabelecem para externar suas rezas no sentido de aplacar as dores e os pecados do mundo. 
É simplesmente espetacular enxergar pelos grotões escuros dos sertões estes homens estranhos, cobertos por seu hábitos brancos à frente puxados pelo decurião com seu cruzeiro. Razão porque ainda hoje muitas ainda têm medo dos penitentes.
Na noite desta sexta não houve o que eles chamam de "corte", embora alguns dos  penitentes trouxessem no pescoço a famosa "disciplina" - instrumento com haste de couro amarradas ao um feixe de lâminas afiadíssimas de metal que nas noites da semana santa( na quaresma) servem para a realização da autoflagelação quando os membros do grupo cortam seus corpos para sanar as dores de Jesus. 

Sepultura do Tunga:

No local  encontra-se edificado o túmulo que, segundo dizem, pertence a uma das filhas do coronel Francisco Xavier de Souza - o fundador de Aurora. A primeira vez que o assunto veio à baila foi  no ano de 2007 através de reportagem especial publicada na 'revista Aurora' escrita por JC resultante de uma exaustiva pesquisa de campo  em parceira com o professor Luiz Domingos de Luna. "Até então, pouco ou quase nada se sabia sobre o histórico e  inusitado fato", disse.

Para entender a matéria:

Tendo chegado em Aurora provavelmente em 1831, vindo do Aracati no litoral cearense, o  então  alferes Francisco Xavier de Souza logo contraiu matrimônio(pela segunda vez) com Maria dos Santos Xavier(de Souza) filha do lugar, de cujo casamento veio ao mundo: Aristides Xavier  de Souza, Antonio, Carminda* e Francisca. 
Há quem diga, conforme rumores dos mais antigos de que a  referida sepultura do sítio Tunga  tenha sido supostamente da primeira filha do coronel nascida em Aurora. Quer seja, Carminda Xavier de Souza. Vitimada que foi pela terrível enfermidade que naquela época era denominada de "bailarina" , ou seja, a cólera. Doença que arrasou populações inteiras naquele período.
Num tempo em que todos os que morriam de bailarina(cólera) ou Lepra(Hanseníase) mesmo pertencentes à família potentado, não podiam ser sepultados nos cemitérios comuns. 
Prática que era terminantemente proibida, inclusive pela igreja católica. Dentre outras coisas, devido o alto poder do contágio que a todos amedrontava em face das intensas e sucessivas epidemias registradas naqueles tempos.
Em conversa com moradores das imediações, o professor José Cícero descobriu um casal de agricultores - D. Izaura e Seu Silvino - (foto) que por conta de uma promessa alcançada para "um filho que cegou de um olho e, depois se curou", todo dia 13 de dezembro, consagrado a Santa Luzia vai ao local para rezar o terço e acender velas. 

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Da Redação do Blog de Aurora
Créditos das Fotos:
Luiz Neto e JC ..
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