Épocas em que a existência do circo era de fato, um fabuloso espetáculo. Um acontecimento exitoso que arrastava multidões por todo o território brasileiro. E muito mais ainda quando se tratava das cidades interioranas onde , via de regra, quase nada ocorria de novidade. Sendo a presença do circo quase sempre um instante de festa e de celebração social. E Aurora não fugiu à regra imutável por mais de meio século. Mais que isso. Foi muito além, visto que teve o privilégio de fornecer para o circo, alguns artistas filhos da terra e que até agora, aqui acolá são ainda lembrados pelos que viveram aqueles tempos de apresentações circenses. Época em que o circo era, por assim dizer, uma das únicas ferramentas de arte, cultura, lazer. A televisão do nosso interior. Constituindo, portanto, um dos momentos mais importantes e especiais no cotidiano das pequenas cidades destes rincões do mundo e que por isso mesmo fizera histórias pelos sertões adentro.
Um verdadeiro acontecimento que conseguia mexer e transformar a velha monotonia das pequenas cidades de todo o interior nordestino. A chegada do circo era, portanto, um fato de grande monta. Oportunidade onde toda a comunidade se reunia em noites inesquecíveis de alegrias e nas matinês saudosas de sábado e de domingo. Atrações que ainda hoje ficaram registradas em detalhes na memória de muitos... O circo foi sem nenhuma dúvida, um espetáculo eminentemente de caráter popular. E com sua linguagem fácil e acessível conseguia educar e emocionar a todos, desde o mais velho ao mais jovem.
Recordemos então, de alguns artistas circenses filhos da terra, assim como de alguns dos circos que marcaram para sempre as lembranças dos aurorenses tais como: O circo Luso-brasileiro de propriedade de Zé Costa. Figura talentosa que também atuava no picadeiro como palhaço. Do Circo São Raimundo um dos mais apreciados pela comunidade da época pela qualidade das suas apresentações.
Ainda do circo Muruarama de propriedade do célebre palhaço Jávem – filho da histórica parteira Dona Santô. Vomo ainda do circo do palhaço Fuxico – talvez o mais famoso dos artistas circenses que já atuaram na terrinha. Do circo Tupinambá com seus animais, mágicos, trapezistas, bons palhaços, equilibristas, comedores de fogo, lindas dançarinas (as famosas baianas), além de inolvidáveis encenações de Romeu e Julieta, Lampião e Maria Bonita, a louca do Jardim e outras comédias do gêneros tão bem feitas que faziam com que platéias inteiras chorassem.
Quem não se lembra das presepadas da dupla de irmãos: Fuxico(palhaço) e Enoque(mestre de cena). Como também do trágico acidente ocorrido em meados dos anos 60(ao lado da estação) com o trapezista J. Ailton do circo de Jávem. O tal trapezista caiu durante a exibição e morreu três dias depois. E a caridosa parteira Santô saiu pela rua a pedir ajudar para que fosse feito o enterro do artista.
Quem não se lembra da bela dançarina Liduína – uma das mais bonitas mulheres circense que já passou por Aurora. Onde ele passava provocava um verdadeiro frisson . Dizem que só a notícia da sua chegada à cidade, já era motivo de falatório, gerando expectativa nos homens e preocupações nas senhoras, que ficavam morrendo de ciúme e de cuidados.
Não tinha uma só noite que o circo o qual pertencia a bela Liduina, não estivesse lotado. Dizem que até durante os espetáculos de matinês destinados à gurizada o público adulto também se fazia presente só para apreciar os dotes de inominável beleza da bela dançarina...
Quem não se lembra do afamado palhaço Carecudo um dos mais inteligentes e engraçados artistas daquele tempo. Das músicas de aberturas, das lambadas e de toda a festa que era aquela gente reunida em frente ao portão e a bilheteria do velho circo. Das pessoas que ali vendiam um grande número de guloseimas. Dos inesquecíveis boêmios: João de 10, Ferinha, Nilton bandeira e Casimiro que por ali passeavam como se também os fossem verdadeiros artistas...
E o palhaço da perna de pau nunca tropeçava... Era um verdadeiro herói a andar todas as tardes pelas ruas rodeados de meninos a convidar a população. “Hoje tem espetáculo? – Tem sim senhor! – Às 8 h da noite? – Tem sim senhor. – Tem palhaço, Tem malabaristas? – Tem sim senhor ...
E continuava: “- Pompeu, Pompeu.
– Tua mãe morreu! – E a cabeça do palhaço o urubu comeu!
– Eu vou ali e volto já – Vou comer maracujá!
– Ela tem mais eu não digo. – Carrapato no umbigo. – E arrasta negrada”...
E continuava. - "Pipoca amendoim torrado. – Carreguei tua mãe num carrim quebrado.
– Ela tem mas eu não digo. – Carrapato no umbigo.
– Pelo jeirto ela só tem. – Carrapato no cedem!
Quanta alegria. E à noite, quando finalmente se ouvia: “Respeitável público!”. A emoção estava apena começando... O mundo e a própria vida cediam espaço para a fantasia...
E desse jeito alegre, toodos eram felizes como que para sempre...
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José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora - CE.
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