Imagens do local : Açude e nascente |
Na noite da última quinta-feira(4)
fomos informados, através do telefonema do
aurorense Sebastião Maciel - Bastim, (representante da AFA) dando conta do fim do açude do Seu Vinô localizado no Araçá., vez que os proprietários/herdeiros do terreno onde se encontra(ou se encontrava) o conhecido açude iniciaram o “arrombamento” da parede
para que o manancial secasse de
vez. O objetivo segundo dizem, é aterrar por completo o local para fim de loteamento(ver fotos).
Diria que, com o fim trágico e
melancólico do velho açude de Seu Vinô, não morre apenas uma simples represa, como tal pode parecer,
mas toda uma história densamente ligada não apenas à cidade de Aurora, mas
principalmente ao próprio surgimento do bairro Araçá onde a propriedade agora
urbana esta inserida.
Com o fim do açude de Seu Vinô
morre também o famoso olho d’Água que se
situa um pouco mais acima, cerca de trezentos metros voltado para o Norte. Ambos deram, literalmente de beber ao bairro
Araçá e parte da população do centro em tempos difíceis de seca. Portanto, há mais que um
legado histórico e ambiental; como também um forte sentimento memorial que não poderia
ser apagado desta forma, sob o silêncio e a indiferenças dos contemporâneos.
Parede do açude vista ao longe |
Algo que de tão grave merecia o
repúdio veemente da população, assim como das autoridades e de todos quantos
amam de verdade a sua terra. Uma preservação merecida e necessária não
apenas pelo valor histórico e afetivo que aquele lugar representa, mas
principalmente, pela manutenção dos aspectos ecológicos e, sobretudo pelos desdobramentos
ambientais negativos que tal intervenção
provocará na qualidade de vida de
todos os moradores das imediações em
particular, como da cidade em geral.
Eis a força da grana mais uma vez
a destruir para sempre coisas belas. O fantasma da especulação imobiliária aliado ao dragão do capital engolindo tudo, ao ponto não querer deixar “pedra sobre pedra”. Apagando de vez os rastros de memória histórica em nome do esquecimento
total, bem como a identidade do povo
para que as novas gerações só
consigam viver sob a perspectiva do não-luga.
REPORTAGEM PUBLICADA NA REVISTA
AURORA:
Reportagem Revista Aurora |
Ainda em 2007 a Revista Aurora
através dos professores José Cícero e Luiz Domingos alertava para a importância
da preservação daquele local, ou seja, tanto do açude quanto da nascente como um patrimônio relevante ante a
propositura de um projeto voltado para o desenvolvimento do turismo ecológico e
de preservação. Cujo nome homenagearia, inclusive, o Sr. Vinô Leite. A reportagem da RA como se ver foi profética, já que era intitulada: "Olho d'Água de Vinô: Pequeno grande sinal de uma morte anunciada".
Tempos depois o representante da
Secult manteve conversações com o proprietário do terreno no sentido da manutenção
preservacionista do Olho d’Água e da mata ciliar do entorno. Quando até a
demarcação foi iniciada com esta finalidade. A proposta era
manter um espaço de preservação ambiental, destinado à visitação pública, além de proporcionar ferramentas para aulas de campo dos estudantes locais. Contudo,
a proposta não evoluiu posto que “Voltaram” atrás quanto à questão da doação pública
do pequeno espaço.
Como se percebe, tudo agora
permanece à mercê da destruição, algo profundamente lamentável e que certamente
trará sérios prejuízos no que tange à qualidade de vida da população. Justamente agora que uma rua está sendo viabilizada
nas imediações da nascente, ligando o Araçá ao alto da cruz do outro lado da
cidade.
Um legado que merecia ser urgentemente preservado:
Açude já completamente esvaziado |
Não tenhamos dúvida. Caso vivo ainda estivesse o Sr. Vinô Leite que, a duras penas, no lombo de animais construiu o manancial e preservou a nascente, não permitiria que esta destruição acontecesse
sob qualquer pretexto. Muito menos para
o fim de loteamento urbano.
Com o fim do açude de Seu Vinô ,
desaparecerá também a nascente que já agoniza, além de um pedaço bonito e importante da nossa história
que está se apagando para sempre.
Por maior que seja a força do
dinheiro e da especulação imobiliária, fomentados pelo crescimento urbano, Aurora não mereceria este tratamento degradativo da sua história e tampouco abrir mão de algo tão precioso para o
presente e o futuro de gerações inteiras.
Porque uma grande memória não pode ter dinheiro que a pague. A verdadeira
história não se vende, não se compra,
apenas se preserva e vive. Posto
que toda história, assim como
a consciência holística da vida e do
planeta são algo que não se negocia sob quaisquer argumentos. Muito menos sob
os interesses do capital em desfavor da vida e do meio ambiente.
Com um imenso sentimento de tristeza,
fica aqui registrado o nosso modesto, porém necessário protesto.
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José Cícero
Aurora – CE.
Fotos; arquivos e Jean Charles
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