domingo, 26 de outubro de 2008

Aurora, uma vitória para entrar para a história

A cidade de Aurora que já deu sinais da sua estreita relação de boa vizinhança com a democracia nas eleições de outubro, vivenciará agora (a partir de janeiro) um novo tempo, um momento dos mais afirmativos da sua história política dos últimos anos. E há razões de sobra para isso. Das mais elementares até as mais alvissareiras e promissoras, hão de impulsionar os aurorenses na sua absoluta maioria, novamente a acreditar na perspectiva de uma Aurora possível. De uma Aurora essencialmente democrática, comprometida com os mais altos sentimentos de civilidade, justiça social e paz. Uma amálgama de gestos e sentimentos em torno do qual sua gente decidiu confiar mudando seus destinos ao sufragar nas urnas os nomes de Adailton e Antonio Landim como prefeito e vice. Mas o que teve de heróico nesta decisão? Afinal de contas, toda processo eleitoral em tese terá fatalmente que apresentar um vencedor. Em tese! Porque do ponto de vista prático, em Aurora tudo ocorreu de modo diferente... Contrariando o convencional, a população radicalizou optando pelos caminhos das mudanças. Ao se permitir mudar de opinião. Vias de regra, há quem até pouco tempo imaginasse que o ‘poder de fogo’ da máquina situacionista fosse algo insuperavelmente demolidor. Inclusive, que a vontade do povo embasada nos princípios democráticos dependesse único e exclusivamente desse poder imaginável.
Os aurorenses provaram assim de maneira tácita e inequívoca que a partir de agora o poder da razão vale mais que a força do poder. Eis aí o diferencial dos mais elogiáveis que ocorrera na eleição da “rainha do Salgado”. No mais, nunca é exagero ressaltar que, todas às vezes que se fez preciso reagir para salvar-se a si mesma, Aurora soube dá o exemplo da maneira mais altiva e resoluta possível. Impondo-se pela força monumental do voto livre e soberano, fazendo-o de arma para assim derrotar os poderosos. Aqueles que embebidos pelo poder político e sem compreender a dinâmica imutável da sua transitoriedade, permitiram-se o tempo todo brincar de Deus, como se olhassem do alto, a população com a particular indiferença que se têm às formiguinhas. Por tudo isso, digamos ser Aurora não por mero capricho da sorte, mas por puro instinto de sobrevivência, a mais autêntica fênix do Cariri.
Indubitavelmente, a vitória de Adailton e Antonio Landim constituiu-se num fato extremamente memorável, quando fora possível vislumbrar dois campos diametralmente opostos; em todos os aspectos que se queira considerar. Não obstante, todas essas nuances que, aliás, se tornara verdadeira praxe nacional, cumpre destacar que nenhuma força, sobretudo em se tratando de política poderá suplantar a vontade popular. Esta constatação ficou evidente de uma vez por todas, nas eleições de outubro quando Aurora de uma forma quase heróica optou pela raia da mudança, numa autêntica manifestação das mais lisonjeiras e entusiasmadas. Ao passo que expressou por completo, o sentimento de uma gente decidida, consciente dos seus objetivos e, com este gesto democrático conseguira gritar se fazendo ouvir pelos que sempre subestimaram sua capacidade de decisão muito mais do que a de se indignar. O recado das urnas, portanto, não tem meio-termo, é quase uma sentença de granito: Aurora não se deixará nunca mais ser escrava de ninguém.
Este recado, portanto, mais que a expressão de um povo feliz, consciente e decidido naquilo que pensa, busca e realiza, vez que nunca perdeu de vista a capacidade de lutar pela utopia dos dias melhores; que a um só tempo, constituem a própria ânsia de uma coletividade comprometida com o novo amanhã de uma terra, cujo futuro há muito, vem se constituindo na sua própria razão de ser. De tal sorte que o sonho de um futuro promissor representa por si só os interesses mais imediatos da boa gente aurorense. Neste sentido, é notório afirmar que as responsabilidades a serem enfrentadas pelo prefeito eleito, aumentam proporcionalmente na razão direta da expectativa com que a municipalidade espera de um gestor jovem, eleito pela primeira vez, corajoso e diferente. Aos novatos, é como se não lhes fosse dado sequer o direito de errar. Como se neste caso, errar definitivamente, não pertencesse à esfera humana. O ato de governar para os chamados “marinheiros de primeira viagem” parece exigir muito mais que só perícia, inteligência e ousadia, como seria natural, mas sobretudo, exigirá quem sabe, uma conexão quase holística e mais direta com os deuses do Olimpo.
Mas, digamos, contudo, que essa despretensiosa consideração subjetiva deste artigo de opinião não passe de uma mera temeridade, ‘folclore’ como se costuma dizer por estas bandas... No entanto, ciência política é algo, cujos resultados práticos dependem muito mais da maneira e da disposição com que as pessoas resolvem se doar à questão do bem servir como uma alternativa de transformação da sociedade, muito mais do que o simples fato de gerenciar o bem público e com eles, os problemas, as contradições e os interesses às vezes espúrios(com raras exceções) de uma minoria inteiramente descompromissada com o social.
Quanto à questão de Aurora, o novo prefeito muito antes da campanha ir às ruas, deu provas suficientes da sua vontade de realizar o melhor por sua gente. Tem, por conta disso, cacife de sobra para trabalhar sob a insígnia da fé e a disposição de sempre travar o bom-combate. Seus sucessivos mandatos no legislativo foram por asim dizer indicativos que o credenciaram para a conquista do executivo com tal brilhantismo que só possuem os grandes líderes.
Ao priorizar sua campanha no exercício da ética, nas idéias propositivas e na tolerância, aliás, uma coisa nova na política de Aurora, Adailton Macedo conseguira conquistar parcelas importantes da sociedade, em especial, a juventude, formadores de opinião, professores, dentre outros. Ressalte-se igualmente, a aliança que fez com o agora vice prefeito eleito, o sindicalista Antonio Landim, ex-vereador do PT e presidente do STR de Aurora. Por fim, a eleição desta dupla, representa um compromisso selado com os interesses dos que durante anos a fio permaneceram na chamada margem da história. Principalmente aqueles que a sociologia política contemporânea convencionou denominar por uma questão quase didática de “carentes, oprimidos, injustiçados ou marginalizados socialmente”. E que ninguém nunca mais cometa a bobagem de querer subestimar a capacidade de reação da nossa gente. Pois, na história da humanidade, todas às vezes que o poder conseguiu subir a cabeça de qualquer líder, os seus liderados tomaram-no de volta. Na história da civilização humana, portanto, esta assertiva tem se transformado quase num axioma. Algo realmente insofismável... Daí a importância de se está sempre aberto a aprender dialeticamente com os bons exemplos da história.
No entanto, haveremos de convir: Aurora precisa muito mais que apenas isso. É preciso, num ato premente e sem mais delongas, recuperar o tempo perdido. Mas, diga-se de passagem, que qualquer forma de mudança tem que ser implementada não como um tratamento de choque, porém com uma base excessivamente prática, inteligente e ousada. Numa investida que se concentre e que tenha como foco o cerne dos problemas fundamentais que não se perda em medidas avulsas dispersas, episódicas, inoperantes e paliativas. Um governo que priorize os resultados, que tenha como norte, uma visão larga e consciente dos seus objetivos mais sublimes, sintonizados com o anseios do povo. Um governo que consiga enxergar e apostar sempre no novo como um caminho aberto às possibilidades. Que aposte sem medo no saber e na construção efetiva do conhecimento como um eficaz instrumento de transformação da sociedade. Que veja na educação, saúde e cultura a certeza de dias melhores. Um governo que na prática, muito mais que nas aparências, priorize a essência de todas as coisas, bem como as boas idéias para o engrandecimento das suas ações administrativas e da vida social como um todo. Que assimile com a mais absoluta racionalidade e austeridade o direcionamento dos recursos públicos com a convicção de que se trata de investimento no futuro e não como meros gastos sem significação algum.
Isso porque governar, acima de tudo, é encarar o presente não pelo ângulo das dificuldades simplesmente, porém como uma grande chance de mudar para melhor a vida e a própria história de uma geração inteira. Tudo isso será possível quando existe a vontade, a coragem e a determinação de se construir o novo. Pois como diria o poeta, o que importa de verdade é um novo jeito de caminhar.
Caminhemos então, todos juntos, sem vacilações, rumo à Aurora dos nossos sonhos.
Por José Cícero
Professor, pesquisador e escritor
Editor da Revista Aurora
Aurora – CE.

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