Tendo por nascedouro a serra da Batateira no município do Crato no sopé da chapada do Araripe, o rio Salgado desenha um percurso de 308 km de extensão; banhando oito municípios. Sua sub-bacia hidrográfica(que integra a bacia do Jaguaribe), no entanto, conforme dados da companhia de gerenciamento e recursos hídricos( Cogerh) está composta por cerca de 23 municípios. Com uma capacidade de acumulação de águas superficiais em torno de 447,41 milhões de m3 mantendo em seu entorno uma área de drenagem da de 12.865 km2 o que representa 8,5% do total do seu território. Sendo que 13 açudes públicos integram o seu perímetro de sua abrangência subdividida em outras cinco micro-bacias regionais. O solo salgadiano é composto por 85% de rochas cristalinas e 15% de sedimentares. Sob a bacia sedimentar do Araripe estão concentrados os seus mais consideráveis aqüíferos da região.
Antes de desaguar no Jaguaribe nas terras do Icó, o Salgado percorre 42 km do território aurorense. Perfazendo assim, somente no município de Aurora uma área irrigável de quase 4 mil hectares onde se destacam as lavouras de milho, feijão, arroz e de hortifrutigranjeiros.
Historicamente o Salgado, foi o caminho natural percorrido por todos os desbravadores deste vale e alto sertão. Portanto, foi peça fundamental para o povoamento de todo o Cariri cearense. Sua influência geográfica e econômica de um modo geral remonta ao aparecimento dos índios Kariri-novos que habitaram este vale desde priscas eras, vindo acossados pelas secas da serra da Borborema na Paraíba. Os povos Kariris habitaram de Missão Velha (Cachoeira-Missão Nova) até o sopé do Araripe, onde se situa a nascente desse importante curso d’água. No seu rastro hidrográfico o Salgado não apenas fertiliza a terra como, aqui e acolá consegue ainda pontuar seu trajeto (mesmo sem a devida preservação) de paisagens naturais raras belezas e deslumbramento.
O principal rio do Cariri concentra ainda, várias fontes de águas minerais(Crato-Barbalha), além do espetacular boqueirão de Lavras e a Massalina de Aurora, dentre outros atrativos ainda não catalogados. Seu encantamento também significa fonte de inspiração para um sem-número de artistas caririenses, a exemplo do renomado forrozeiro aurorense(Ingazeiras) Alcymar Monteiro e sua célebre composição: "Rio Salgado, corrente de água doce".
Hoje porém, do ponto de vista ecológico, o diagnóstico que se tem do Salgado é alarmante. A poluição desenfreada aliada a outras formas de degradação ambiental, advindas das atividades antropocêntricas e do desenvolvimento urbano e industrial vêm o transformando aos poucos, num verdadeiro esgoto a céu aberto. De acordo com uma série de estudos laboratoriais e levantamentos técnicos as águas do Salgado possuem em alguns pontos, principalmente nas proximidades das cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, altíssimo grau de poluição química, incluindo a presença de metais pesados. Ficou constatada também a redução considerável do seu antigo potencial pesqueiro. Sendo que algumas espécies de peixes consideradas endêmicas(que só existiam na sua bacia) já são praticamente dadas por extintas. Contudo, o quadro triste do Salgado não para por aí. No momento tudo o que ainda resta da sua antes abundante fauna e flora está correndo sérios risco. Há evidências de que a sua mata ciliar já esteja quase que inteiramente comprometida em muitos trajetos. Plantas nativas antes facilmente encontradas às suas margens hoje praticamente desapareceram. A eutrofização virou uma constante em todo o percurso salgadiano. Notadamente nos diversos barramentos edificados sem nenhum critério ambienta que atingem o seu ponto crítico nas épocas de estiagem.
Aliás, já é consenso entre os ambientalistas que a quebra da cadeia ecológica do Salgado comprometerá todo o ecossistema sócioambiental sul caririense. De modo que, sem a devida proteção antes oferecida pela vegetação ciliar o rio vem sofrendo um intenso processo de assoreamento, prejudicando inclusive a base alimentar de peixes, moluscos, microorganismos e outros animais que fazem das ribanceiras do rio seu habitat natural.
Moradores ribeirinhos já se resentem da sua antiga fartura. Na comunidade rural de Pavão na região de Ingazeiras, por exemplo, o agricultor Edmilson Ribeiro 78 anos, que desde a infância conviveu de perto com o manancial, se diz inconformado e triste diante da situação por que passa o Salgado. Espécies como o “cascudo, cari-chupela de barbatana e a jutubara” não mais existem naquela região, conforme explica o agricultor. Outra constatação é a rapidez com que o rio se alarga, fica raso e seca. “O nosso rio está longe de ser como era antigamente”, diz o rurícola meio desolado. “Antes aqui tudo era fartura... não era nem preciso ir longe para se pegar os peixes que a gente precisava. Hoje, até piabas é difícil de se vê” conclui o ribeirinho. É provável que espécies vegetais e animais ainda não conhecidas e estudadas pela ciência já tenham desaparecido completamente. Um livro de sabedoria e oportunidades antrópicas que perdemos para sempre.
Em contrapartida, há quem diga que o Salgado poderá voltar a ser o que era antes, a partir da sua revitalização contida nas diretrizes do projeto de transposição das águas do São Francisco para o Nordeste setentrional. Isso porque parte da sua calha natural será aproveitada para dá vazão às águas do “velho Chico”. Todavia, existem também os que não enxerguem quase que nenhuma vantagem no projeto. Para estes, o Salgado sofrerá ainda mais com mais esta intervenção humana.
Polêmicas à parte, todos os números apontam para a atual situação de penúria em que se encontra o rio do Cariri. Um quadro que no final das contas poderá provocar sérios impactos não apenas ambientais como também econômicos e sociais para toda esta vasta região do padre Cícero.
Apenas num ponto todos são unânimes: a necessidade de soluções urgentes, no sentido de se estancar o processo cada vez mais acelerado de degradação do manancial. As agressões constatadas são tantas que não é nenhum absurdo afirmar que o ponto-limite do rio está prestes de ser ultrapassado. Após este estágio, nada mais poderá ser feito, pois será muito tarde. Um caminho sem volta. O tempo está se esgotando.... sustentam os especialistas. Daqui a pouco a morte do Salgado não será mais ilação, porém um fato consumado.
Antes de desaguar no Jaguaribe nas terras do Icó, o Salgado percorre 42 km do território aurorense. Perfazendo assim, somente no município de Aurora uma área irrigável de quase 4 mil hectares onde se destacam as lavouras de milho, feijão, arroz e de hortifrutigranjeiros.
Historicamente o Salgado, foi o caminho natural percorrido por todos os desbravadores deste vale e alto sertão. Portanto, foi peça fundamental para o povoamento de todo o Cariri cearense. Sua influência geográfica e econômica de um modo geral remonta ao aparecimento dos índios Kariri-novos que habitaram este vale desde priscas eras, vindo acossados pelas secas da serra da Borborema na Paraíba. Os povos Kariris habitaram de Missão Velha (Cachoeira-Missão Nova) até o sopé do Araripe, onde se situa a nascente desse importante curso d’água. No seu rastro hidrográfico o Salgado não apenas fertiliza a terra como, aqui e acolá consegue ainda pontuar seu trajeto (mesmo sem a devida preservação) de paisagens naturais raras belezas e deslumbramento.
O principal rio do Cariri concentra ainda, várias fontes de águas minerais(Crato-Barbalha), além do espetacular boqueirão de Lavras e a Massalina de Aurora, dentre outros atrativos ainda não catalogados. Seu encantamento também significa fonte de inspiração para um sem-número de artistas caririenses, a exemplo do renomado forrozeiro aurorense(Ingazeiras) Alcymar Monteiro e sua célebre composição: "Rio Salgado, corrente de água doce".
Hoje porém, do ponto de vista ecológico, o diagnóstico que se tem do Salgado é alarmante. A poluição desenfreada aliada a outras formas de degradação ambiental, advindas das atividades antropocêntricas e do desenvolvimento urbano e industrial vêm o transformando aos poucos, num verdadeiro esgoto a céu aberto. De acordo com uma série de estudos laboratoriais e levantamentos técnicos as águas do Salgado possuem em alguns pontos, principalmente nas proximidades das cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, altíssimo grau de poluição química, incluindo a presença de metais pesados. Ficou constatada também a redução considerável do seu antigo potencial pesqueiro. Sendo que algumas espécies de peixes consideradas endêmicas(que só existiam na sua bacia) já são praticamente dadas por extintas. Contudo, o quadro triste do Salgado não para por aí. No momento tudo o que ainda resta da sua antes abundante fauna e flora está correndo sérios risco. Há evidências de que a sua mata ciliar já esteja quase que inteiramente comprometida em muitos trajetos. Plantas nativas antes facilmente encontradas às suas margens hoje praticamente desapareceram. A eutrofização virou uma constante em todo o percurso salgadiano. Notadamente nos diversos barramentos edificados sem nenhum critério ambienta que atingem o seu ponto crítico nas épocas de estiagem.
Aliás, já é consenso entre os ambientalistas que a quebra da cadeia ecológica do Salgado comprometerá todo o ecossistema sócioambiental sul caririense. De modo que, sem a devida proteção antes oferecida pela vegetação ciliar o rio vem sofrendo um intenso processo de assoreamento, prejudicando inclusive a base alimentar de peixes, moluscos, microorganismos e outros animais que fazem das ribanceiras do rio seu habitat natural.
Moradores ribeirinhos já se resentem da sua antiga fartura. Na comunidade rural de Pavão na região de Ingazeiras, por exemplo, o agricultor Edmilson Ribeiro 78 anos, que desde a infância conviveu de perto com o manancial, se diz inconformado e triste diante da situação por que passa o Salgado. Espécies como o “cascudo, cari-chupela de barbatana e a jutubara” não mais existem naquela região, conforme explica o agricultor. Outra constatação é a rapidez com que o rio se alarga, fica raso e seca. “O nosso rio está longe de ser como era antigamente”, diz o rurícola meio desolado. “Antes aqui tudo era fartura... não era nem preciso ir longe para se pegar os peixes que a gente precisava. Hoje, até piabas é difícil de se vê” conclui o ribeirinho. É provável que espécies vegetais e animais ainda não conhecidas e estudadas pela ciência já tenham desaparecido completamente. Um livro de sabedoria e oportunidades antrópicas que perdemos para sempre.
Em contrapartida, há quem diga que o Salgado poderá voltar a ser o que era antes, a partir da sua revitalização contida nas diretrizes do projeto de transposição das águas do São Francisco para o Nordeste setentrional. Isso porque parte da sua calha natural será aproveitada para dá vazão às águas do “velho Chico”. Todavia, existem também os que não enxerguem quase que nenhuma vantagem no projeto. Para estes, o Salgado sofrerá ainda mais com mais esta intervenção humana.
Polêmicas à parte, todos os números apontam para a atual situação de penúria em que se encontra o rio do Cariri. Um quadro que no final das contas poderá provocar sérios impactos não apenas ambientais como também econômicos e sociais para toda esta vasta região do padre Cícero.
Apenas num ponto todos são unânimes: a necessidade de soluções urgentes, no sentido de se estancar o processo cada vez mais acelerado de degradação do manancial. As agressões constatadas são tantas que não é nenhum absurdo afirmar que o ponto-limite do rio está prestes de ser ultrapassado. Após este estágio, nada mais poderá ser feito, pois será muito tarde. Um caminho sem volta. O tempo está se esgotando.... sustentam os especialistas. Daqui a pouco a morte do Salgado não será mais ilação, porém um fato consumado.
Estamos diante de um processo quase irreversível pelo qual nós, os contemporâneos, condenaremos aos caos ambiental a geração do futura. Uma dívida das mais impagáveis que deixaremos para nossos descendentes e a posteridade. Decerto, os homens e mulheres do porvir não nos perdoarão, caso não mudemos sem mais protelações a nossa maneira de nos relacionar com a natureza e a biodiversidade de um modo geral. O Salgado é uma criança ainda a implorar nossos cuidados.
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Por José Cícero
In O Povo
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Por José Cícero
In O Povo
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