Nordeste: A transposição do rio São Francisco pode mudar o perfil econômico da região e criar 1,2milhão de empregos
Castigado pela seca que devasta o nordeste, o município de Felipe Guerra, no oeste do Rio Grande do Norte, perdeu nos últimos dois anos quase 2.000 de seus 7.000 habitantes. Famílias inteiras fogem da cidade em busca de emprego em Natal ou São Paulo. A miséria de Felipe Guerra, agravada na última quinta-feira com uma ameaça de invasão da prefeitura local por flagelados, poderia dar lugar a um cenário melhor, se o governo federal tivesse executado o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. As margens do rio Apodi, Felipe Guerra seria 1 dos 140 municípios do nordeste banhados pelas águas do São Francisco. Com a transposição do rio Apodi, hoje reduzido a pequenas poças de lama, ficaria permanentemente cheio, e o município produziria as 90 toneladas mensais de arroz normais em épocas de chuvas regulares.
Castigado pela seca que devasta o nordeste, o município de Felipe Guerra, no oeste do Rio Grande do Norte, perdeu nos últimos dois anos quase 2.000 de seus 7.000 habitantes. Famílias inteiras fogem da cidade em busca de emprego em Natal ou São Paulo. A miséria de Felipe Guerra, agravada na última quinta-feira com uma ameaça de invasão da prefeitura local por flagelados, poderia dar lugar a um cenário melhor, se o governo federal tivesse executado o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. As margens do rio Apodi, Felipe Guerra seria 1 dos 140 municípios do nordeste banhados pelas águas do São Francisco. Com a transposição do rio Apodi, hoje reduzido a pequenas poças de lama, ficaria permanentemente cheio, e o município produziria as 90 toneladas mensais de arroz normais em épocas de chuvas regulares.
Rio artificial A transposição é uma espécie de braço artificial de rio que levará águas do São Francisco para os rios secos do nordeste. Captadas em Cabrobó (PE), as águas percorrem 115 km até Jati (CE), desaguando no rio Jaguaribe. Pelo Canal do trabalhador, em Aracati, as águas podem chegar a Fortaleza. Com canais de concreto e estações elevatórias, a transposição tem um segundo trecho de 120 km entre Aurora (CE) e Major Sales (RN). A partir dali, o rio São Francisco chega aos rios Piranhas-Açu e Apodi (RN). Antes disso, suas águas já passaram pela Paraíba e Pernambuco. Orçado em 94 inicialmente em R$ 980 milhões, a transposição tem um preço considerado baixo se comparado a outros gastos do governo federal. Até 2015, por exemplo, as forças Armadas vão gastar R$ 4 bilhões em seu projeto de reaparelhamento. O governo usou R$ 21 bilhões para salvar bancos em dificuldades financeiras. Na última grande seca da região, em 1993, por exemplo, o governo gastou pelo menos R$ 1bilhão em frentes de trabalho, pequenas obras e alimentação para a multidão de famintos do Nordeste. Com a transposição, pelo menos 6 milhões de habitantes da região serão abastecidos com as águas do São Francisco. Outro dado positivo é a criação de 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos nos 333,2 mil hectares de tera irrigada. Com água, a agroindústria mudará o atual perfil econômico do Nordeste. Do ponto de vista ambiental, tanto aliados quanto adversários do projeto concordam que os 70m3 de água por segundo que serão retirados do rio São Francisco representa apenas 3% dos mil metros cúbicos de vazão por segundo do rio. O único impacto da transposição poderia ocorrer na geração de energia das Hidrelétricas que estão localizadas após o trecho em que parte das águas do São Francisco serão interceptadas.
Fonte Comissão Executiva do Semi-Arido Nordestino (Cesan)
Fonte Comissão Executiva do Semi-Arido Nordestino (Cesan)
Águas abastecerão trecho de 2.100 km de rios secos
As águas da tarnsposição do São Francisco percorrerão um trecho de 2.100 km de rio. A maior parte desse percurso é formada por rios que ficam secos durante o períodos de estiagem do Nordeste. Para atingir os rios, o projeto temde vencer desafios da natureza. A começar pelo trecho de 115 km de aclive entre Cabrobó (PE), onde as águas são captadas, e Jati (CE). Nesse trecho, as águas terão que subir um total de 160 metros por canais de concreto e estações elevatórias e de bombeamento. Ao serem interceptadas, em Cabrobó (PE), as águas do São Francisco estão a 315 metros acima do nível do mar. Quando essas mesmas águas chegarem a Jati (CE), estarão a 475 metros acima do nível do mar. A partir daí, começa o trecho de declive. O primeiro rio a receber águas do São Francisco é odos Porcos, no Ceará, passando depois pelo Salgado e em seguida pelo Jaguaribe, considerado o maior rio seco do mundo, 615 km de extensão. O segundo trecho de transposição, entre Aurora (CE) e Major Sales (RN), é menos complicado. Ali praticamente não há subidas que dificultem a engenharia do projeto. A água que passa por esse trecho desaguará no rio Apodi e depois no rio Mossoró (RN). De transposição sairão águas para o rio Piranhas-Açu, também em solo potiguar. os rios da Paraíba receberão suas águas a partir de Jati, no Ceará. A partir dali será feito um canal que levará as águas para os rios Piancó e Paraíba, que deságua no mar, perto de João Pessoa. O trecho pernambuco é formado por canais que irão até a barragem de Poço da Cruz, abastecendo rios menores.Benefício Se o projeto fosse executado como está, o Ceará seria o Estado que mais se beneficiaria com as águas do São Francisco, recebendo 25m3 por segundo dos 70m3 captados. Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte ficariam cada um com 15m3 por segundo das águas. De acordo com o projeto, cada Estado faria suas obras de canais para a utilização das águas do São Francisco. Abelírio Rocha, encarregado do projeto,diz que os Estados gastarão em torno de outros R$ 1 bilhão com essas obras. No momento, alguns Estados estão fazendo barragens que integram o projeto de transposição. Uma delas é a Castanhão, no Ceará, orçada em R$ 150 milhões e que está sendo feita com verbas federais. O governo do Rio Grande do Norte está construindo com dinheiro próprio a barragem de Santa Cruz, que custará R$ 40 milhões. Ao todo, 13 barragens de pequeno e médio portes integrarão o projeto- as da Paraíba e as Pernambuco já estão prontas. Todas elas servirão para regularizar o fluxo dos rios- isso significa que, em anos de chuva, a captação de águas do São Francisco será menor.
Emanuel Neri, Folha de São Paulo, 11/05/98, p.1-6
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