Estação de Aurora - Revitalização e tombamento municipal(arquivo Secult) |
Passagens de Ida e Volta à capital cearense julho de 1988(cortesia C. Teixeira) |
Há vinte e
cinco anos atrás partia para nunca mais voltar o velho e inesquecível trem de
passageiro do nosso Cariri. Uma saudade que há muito soa também como um
sentimento de tristeza e de revolta por conta do total descaso político perante
o fim melancólico e suspeito de um bem verdadeiramente social. Algo que ao
longo de anos a fio, aprendemos chamar pelo seu nome simples de Trem.
Além do
silêncio cúmplice de muitos potentados diante da inexplicável interrupção do
transporte ferroviário do nosso interior. Algo que se espalhou por todos os rincões do
Brasil. Verdadeiro crime de lesa-pátria, já que o trem há muito fazia parte da
vida sócio-cultural e econômica do povo, sobretudo do Nordeste. E em especial
os mais pobres habitantes dos sertões adentro. Sem dúvida, um autêntico patrimônio histórico de todas as
gerações interioranas que em meados dos anos 80 foi tirado de nós.
Em Aurora o
último trem de passageiro vindo do Crato em direção à Fortaleza passou numa
tarde ensolarada e calorenta do dia 10 de julho de 1988. Foi-se embora de vez
sem nenhuma despedida formal. Como se tudo estivesse combinado à surdina. Isto
é, á revelia da população.
A ninguém
foi dado sequer o direito da despedida. Do último adeus. Do derradeiro aceno.
Do último olhar para que a sua imagem ficasse mais viva para sempre na memória
afetiva do povo.
Mas em
Aurora, o Agente NEM não se conteve de emoção e avisou para os que compraram
passagem naquele dia. Assegurava que aquele seria o trem da ida sem volta. O
trem da despedida. Como narrou o aurorense – Cícero Teixeira, que comprara a
passagem da foto, com destino à capital.
Muitos nem
acreditaram naquela inusitada informação. O trem estava tão presente nas suas
vidas que tinham a certeza de que ele seria para sempre. O trem era de ferro
jamais se acabaria. E logo em 88 quando se almejava a Carta Magna, o trem era
de fato para todos eles, uma ‘causa pétrea’. Uma conquista eterna.
Em vão,
achavam que os políticos não teriam a coragem e a sem-vergonhice de por um fim
àquela invenção histórica, cuja existência, precisou de tantas vidas para poder
chegar até ali nos grotões do mundo. Mas, o agente estava certo. O sino batia
diferente como quem anunciava um féretro. Poucos foram os que estavam na pedra
da estação naquele dia. O trem d’Aurora partira para sempre. Diferente do que
ocorreu nas cidades de Granja e Camocim na zona norte, quando a população
avisada antecipadamente, encheram as estações. Choravam copiosamente e se
recusaram até a sair do meio da linha. E quanto o comboio partira todos
correram atrás gritando de tristezas como loucos alucinados...
Desde então,
desde a João Felipe na capital, todas as estações ficaram desertas. Muitas
cidades e muitas vilas, assim como as pessoas ao longo da linha de ferro
cobriram-se de silêncio, tristeza e solidão.
Para onde
quer que se ande, a linha de ferro com seus dormentes carcomidos pelo tempo agora
é um símbolo de luto a se estender pelos sertões...
De lá para
cá são tantas as conversas, as mentiras e as promessas políticas. Tudo ludibrio para angariar os votos dos incautos sertanejos.
E o abandono
das antigas estações, quando não demolidas, nos doe como feridas mal curadas. Além
de uma história mal resolvida ante o acerto de conta do passado com o presente
que nunca se completa.
Tudo o mais
são lembranças, saudades, revoltas ou pura solidão.
......................
Por José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora - CE.
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Fotos JC - cortesia Cícero Teixeira
Fotos JC - cortesia Cícero Teixeira
4 comentários:
Que estória é essa de dizer que acabou o TREM D’AURORA, era um trem de ferro, jamais se acabaria. Foi nesse meio de transporte ferroviário, de largo alcance social, que perfurava o interior cearense, que viajava de Aurora-Fortaleza-Aurora durante os meus três anos de Científico (Ensino Médio) e mais os cinco anos de Faculdade de Agronomia.
Será que o Poderoso Capital das Montadoras de Veículos Automotores, aliado à conivência ou à Corrupção dos Governantes de então corroeram o trem de ferro, o nosso trem d’Aurora?
A nossa sorte é que os governos atuais a toda hora falam em revitalização do transporte de massa, pelo menos é o que costumo ouvir nas barulhentas e quase insuportáveis campanhas eleitorais (ou eleitoreiras?).
Por enquanto resta-me contentar com a informação registrada pelo Escritor José Cícero de que “Em Aurora o último trem de passageiro vindo do Crato em direção à Fortaleza passou numa tarde ensolarada e calorenta do dia 10 de julho de 1988. Foi-se embora de vez sem nenhuma despedida formal. Como se tudo estivesse combinado à surdina. Isto é, á revelia da população”.
Que estória é essa de dizer que acabou o TREM D’AURORA, era um trem de ferro, jamais se acabaria. Foi nesse meio de transporte ferroviário, de largo alcance social, que perfurava o interior cearense, que viajava de Aurora-Fortaleza-Aurora durante os meus três anos de Científico (Ensino Médio) e mais os cinco anos de Faculdade de Agronomia.
Será que o Poderoso Capital das Montadoras de Veículos Automotores, aliado à conivência ou à Corrupção dos Governantes de então corroeram o trem de ferro, o nosso trem d’Aurora?
A nossa sorte é que os governos atuais a toda hora falam em revitalização do transporte de massa, pelo menos é o que costumo ouvir nas barulhentas e quase insuportáveis campanhas eleitorais (ou eleitoreiras?).
Por enquanto resta-me contentar com a informação registrada pelo Escritor José Cícero de que “Em Aurora o último trem de passageiro vindo do Crato em direção à Fortaleza passou numa tarde ensolarada e calorenta do dia 10 de julho de 1988. Foi-se embora de vez sem nenhuma despedida formal. Como se tudo estivesse combinado à surdina. Isto é, á revelia da população”.
Que estória é essa de dizer que acabou o TREM D’AURORA, era um trem de ferro, jamais se acabaria. Foi nesse meio de transporte ferroviário, de largo alcance social, que perfurava o interior cearense, que viajava de Aurora-Fortaleza-Aurora durante os meus três anos de Científico (Ensino Médio) e mais os cinco anos de Faculdade de Agronomia.
Será que o Poderoso Capital das Montadoras de Veículos Automotores, aliado à conivência ou à Corrupção dos Governantes de então corroeram o trem de ferro, o nosso trem d’Aurora?
A nossa sorte é que os governos atuais a toda hora falam em revitalização do transporte de massa, pelo menos é o que costumo ouvir nas barulhentas e quase insuportáveis campanhas eleitorais (ou eleitoreiras?).
Por enquanto resta-me contentar com a informação registrada pelo Escritor José Cícero de que “Em Aurora o último trem de passageiro vindo do Crato em direção à Fortaleza passou numa tarde ensolarada e calorenta do dia 10 de julho de 1988. Foi-se embora de vez sem nenhuma despedida formal. Como se tudo estivesse combinado à surdina. Isto é, á revelia da população”.
Que estória é essa de dizer que acabou o TREM D’AURORA, era um trem de ferro, jamais se acabaria. Foi nesse meio de transporte ferroviário, de largo alcance social, que perfurava o interior cearense, que viajava de Aurora-Fortaleza-Aurora durante os meus três anos de Científico (Ensino Médio) e mais os cinco anos de Faculdade de Agronomia.
Será que o Poderoso Capital das Montadoras de Veículos Automotores, aliado à conivência ou à Corrupção dos Governantes de então corroeram o trem de ferro, o nosso trem d’Aurora?
A nossa sorte é que os governos atuais a toda hora falam em revitalização do transporte de massa, pelo menos é o que costumo ouvir nas barulhentas e quase insuportáveis campanhas eleitorais (ou eleitoreiras?).
Por enquanto resta-me contentar com a informação registrada pelo Escritor José Cícero de que “Em Aurora o último trem de passageiro vindo do Crato em direção à Fortaleza passou numa tarde ensolarada e calorenta do dia 10 de julho de 1988. Foi-se embora de vez sem nenhuma despedida formal. Como se tudo estivesse combinado à surdina. Isto é, á revelia da população”.
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