Tradicionalmente o município de Aurora tem-se notabilizado no cenário artístico do Ceará, do Nordeste e por que não dizer do Brasil, como um verdadeiro celeiro de uma das mais autênticas riquezas culturais do interior brasileiro. Com uma vertente por demais variada, indo da literatura à música, da escultura às artes plásticas, do artesanato à culinária, assim como do repentismo poético(violeiro) ao reisado e aos penitentes da Ordem Santa Cruz. Todos esses valorem compõem o verdadeiro caleidoscópio das preciosidades sócio-culturais do município, de onde não se exclui a enorme diversidade de outros gêneros da cultura popular que juntos, compõem todo o conjunto das manifestações tradicionais peculiares ao cotidiano da gente aurorense.
No entanto, o abandono em que se encontra relegado velhas tradições que no passado fizeram a alegria e a diversão de gerações inteiras como: a dança do coco, o reisado, o bumba-meu-boi, o maneiro-pau, as pastorinhas, o forró de pé de serra, o xaxado, a literatura de cordel, dentre outras, encontram-se hoje quase que completamente esquecidas pelas pessoas consideradas de meia-idade e, praticamente inexistente para os mais jovens que compõem a geração do presente. De tal maneira, não constitui nenhum exagero afirmar que parte considerável das antigas manifestações da cultura popular de Aurora ou já desapareceu ou encontra-se num acelerado processo de extinção, rumo ao esquecimento total. Uma vez que aqueles que eram possuidores deste conhecimento oral, já estejam quase todos falecidos. E como não houve nenhum trabalho de registro e preservação deste patrimônio imaterial pouco coisa ainda resta a fazer neste sentido.
O mesmo acontece com o patrimônio arquitetônico de onde se destacam o Casarão do Cel. Xavier de 1831, a antiga residência da brava matriarca Marica Macedo, o prédio da Estação Ferroviária de 1920, incluindo o de Ingazeiras, juntamente com as residências do Agente da Reffesa da sede e do citado distrito. Todo este patrimônio precisa ser recuperado e tombado(enquanto há tempo) segundo as normas que regem os mecanismos de defesa e preservação do patrimônio histórico e arquitetônico, tanto em nível de estado quanto da própria União.
Um trabalho rigoroso com esta perspectiva prervacionista pode inclusive gerar divisas não apenas no sentido da preservação da memória histórica, mas principalmente no aspecto do turismo local que também precisa ser iniciado. Atualmente nenhum município pode abrir mão desta ferramenta fundamental para melhorar sua economia, investindo na cultura, dando maior visibilidade às ações administrativas lá fora por meio do desenvolvimento das suas atividades turísticas. Não importa se estamos apenas começando, é preciso que para tudo tenhamos uma visão de futuro. Nenhuma ação imediatista funciona bem, quando o negócio é o empreendedorismo, sobretudo no contexto público-municipal.
Por conseguinte, com a implementação de uma política voltada para este setor é possível que Aurora passe a ocupar de vez um lugar de destaque e que tanto merece no cenário regional do Cariri e quiçá no Ceará. Já que potencial para isso possuir de sobra...
O fenômeno relacionado à figura da Mártir Francisca, conhecida no além-fronteira como “A santa Popular de Aurora” constitui um outro aspecto fundamental para a projeção de Aurora e o desenvolvimento do chamado turismo religioso no contexto regional. Mesmo sem nenhum trabalho voltado para o setor(até agora 27/10/08) por parte do poder público, a história da mártir correu o mundo, ao ponto de serem muitas as caravanas de curiosos, devotos e fiéis que vêm todos os anos visitar a capelinha da ‘Santa’. O primeiro passo seria dotar o local de visitação de uma infra-estrutura mínima necessária, proporcionando mais conforto, comodidade e bem-estar aos visitantes. O turismo religioso é outro item propulsor de desenvolvimento de qualquer cidade que preze pela modernidade. Creio que em Aurora não poderia ser diferente.
Por outro lado, temos ainda cerca de 42 km do rio Salgado(o maior rio da região) cortando Aurora de uma ponta a outra. Com a viabilidade do projeto de Transposição do São Francisco que usará o percurso do Salgado como calha natural, ajudará em muito um possível projeto de desenvolvimento voltado para o turismo ecológico em várias partes do rio onde os atrativos naturais são preponderantes. Para tanto, faz-se mister certo investimento no tocante a infra-estrutura de acesso. Para citar apenas alguns dos muitos atrativos naturais do manancial salgadiano: a aprazível vista da ponte; os mergulhos nas suas diversas barragens; o banho e o panorama proporcionado pelo Poço do Meio, o insólito suposto sítio arqueológico da Massalina(sítio Volta), a promoção de pescaria esportiva e controlada em quase todo o seu percurso, etc. Tudo isso, por outro lado, facilitaria o desperta para a necessidade de uma efetiva consciência ecológica atrelada a uma visão mais responsável no tocante à preservação dos recursos naturais do Salgado e por extensão, de todo o bioma aurorense por parte da população. Também é digno, tanto de preservação, quanto de aproveitamento turístico a enigmática necrópole conhecida sob a denominação de Cemitério da Bailarina situada no sítio Carro-quebrado na região de Antas. Enigmáticos resquícios de sepultamentos clandestinos que remontam possivelmente do século XVII.(ver matéria especial publicada na Revista Aurora nº 01/07).
Um município com o potencial cultural de Aurora não pode se dá ao luxo de prescindir de um centro cultural, de um museu, de oficinas de artes e ofícios, de um núcleo de exposição permanente, de uma central de artesanato, de uma biblioteca que seja modelo e referência para o Cariri, enfim de uma política de cultura realmente “agressiva” que possa mostrar aos próprios aurorenses e ao Brasil o que o município tem de melhor nesta área. É inconcebível que tenhamos ainda jovens que sequer já ouviram falar em Hermenegildo de Sá Cavalcante, Jaime de Alencar Araripe, Nêgo Simplício, Serra Azul, Marica Macedo, Padre Francisco França, Padre Luna, Amarílio Gonçalves e tantas outras figuras importantes desta terra. Ainda, muito pouco ou quase nada conheçam acerca da história de luta e formação deste núcleo urbano. Todavia, conhecem de cor e com riquezas de detalhes Madona, Xuxa, Michael Jackson, Tiririca, Bola de Fogo, Ronaldinho Gaúcho e por aí vai...Convenhamos, não podemos permanecer impassível perante esta inversão de valores a cada dia mais crescente. Antes de se estudar o rio Nilo, Tigre e Amazonas por exemplo; é imperioso conhecer o rio Salgado, o Jaguaribe, o riacho do Jenipapeiro, dos Porcos, o açude Cachoeira, o Orós, o Castalhão, a Massalina, o bouqueirão, o olho d'água de Vinô, etc... de modo que o universal precisa começar de fato, por nosso quintal.
Esta constatação também está umbilicalmente atrelada a forma como temos tratados historicamente as nossas riquezas culturais(tradição, o folclore, os saberes do senso-comum) e, por conseqüência o tratamento que se tem oferecido aos nossos valores(os artistas e artesãos). Penso que a própria escola( no seu atual modelo engessador de novas idéias) e, sobretudo a sua metodologia estanque tem ajudado no atual emaranhado destas nossas contradições.
Pois uma cultura de verdade não se cria. Vive-se e se preserva. Ao passo que a cultura é a própria identidade de um povo, sem ela, não se é ninguém... Assim como um povo sem história nunca pode sequer se imaginar no esteio do futuro. Portanto, para que estejamos definitivamente situados no tempo e no espaço por intermédio desta nave cósmica que é a terra, levitando no éter espacial da via-láctea universal no seu eterno itinerário expansionista, precisamos desta visão holística; só nos proporcionada pela consciência plena dos nossos verdadeiros valores sócio-culturais, ambientais e humanistas. É preciso conhecer para viver uma cultura de verdade, sob pena de não sermos ninguém. Ou quem sabe, apenas mais um, perdido para sempre numa massa amorfa que não pensa e não vive por si mesma. Chega, de se viver e consumir gregariamente o que não é nosso.
Por isso acreditamos que Aurora daqui para frente resistirá à tentação. Ou pelo menos se esforçará para isso. Optando por viver e construir um novo tempo cultural para sua gente, com o mesmo entusiasmo de quem constrói uma aventura para uma vida inteira.
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José Cícero -
Professor, pesquisador, poeta e escritor.
Editor da Revista Aurora
Aurora – CE.
No entanto, o abandono em que se encontra relegado velhas tradições que no passado fizeram a alegria e a diversão de gerações inteiras como: a dança do coco, o reisado, o bumba-meu-boi, o maneiro-pau, as pastorinhas, o forró de pé de serra, o xaxado, a literatura de cordel, dentre outras, encontram-se hoje quase que completamente esquecidas pelas pessoas consideradas de meia-idade e, praticamente inexistente para os mais jovens que compõem a geração do presente. De tal maneira, não constitui nenhum exagero afirmar que parte considerável das antigas manifestações da cultura popular de Aurora ou já desapareceu ou encontra-se num acelerado processo de extinção, rumo ao esquecimento total. Uma vez que aqueles que eram possuidores deste conhecimento oral, já estejam quase todos falecidos. E como não houve nenhum trabalho de registro e preservação deste patrimônio imaterial pouco coisa ainda resta a fazer neste sentido.
O mesmo acontece com o patrimônio arquitetônico de onde se destacam o Casarão do Cel. Xavier de 1831, a antiga residência da brava matriarca Marica Macedo, o prédio da Estação Ferroviária de 1920, incluindo o de Ingazeiras, juntamente com as residências do Agente da Reffesa da sede e do citado distrito. Todo este patrimônio precisa ser recuperado e tombado(enquanto há tempo) segundo as normas que regem os mecanismos de defesa e preservação do patrimônio histórico e arquitetônico, tanto em nível de estado quanto da própria União.
Um trabalho rigoroso com esta perspectiva prervacionista pode inclusive gerar divisas não apenas no sentido da preservação da memória histórica, mas principalmente no aspecto do turismo local que também precisa ser iniciado. Atualmente nenhum município pode abrir mão desta ferramenta fundamental para melhorar sua economia, investindo na cultura, dando maior visibilidade às ações administrativas lá fora por meio do desenvolvimento das suas atividades turísticas. Não importa se estamos apenas começando, é preciso que para tudo tenhamos uma visão de futuro. Nenhuma ação imediatista funciona bem, quando o negócio é o empreendedorismo, sobretudo no contexto público-municipal.
Por conseguinte, com a implementação de uma política voltada para este setor é possível que Aurora passe a ocupar de vez um lugar de destaque e que tanto merece no cenário regional do Cariri e quiçá no Ceará. Já que potencial para isso possuir de sobra...
O fenômeno relacionado à figura da Mártir Francisca, conhecida no além-fronteira como “A santa Popular de Aurora” constitui um outro aspecto fundamental para a projeção de Aurora e o desenvolvimento do chamado turismo religioso no contexto regional. Mesmo sem nenhum trabalho voltado para o setor(até agora 27/10/08) por parte do poder público, a história da mártir correu o mundo, ao ponto de serem muitas as caravanas de curiosos, devotos e fiéis que vêm todos os anos visitar a capelinha da ‘Santa’. O primeiro passo seria dotar o local de visitação de uma infra-estrutura mínima necessária, proporcionando mais conforto, comodidade e bem-estar aos visitantes. O turismo religioso é outro item propulsor de desenvolvimento de qualquer cidade que preze pela modernidade. Creio que em Aurora não poderia ser diferente.
Por outro lado, temos ainda cerca de 42 km do rio Salgado(o maior rio da região) cortando Aurora de uma ponta a outra. Com a viabilidade do projeto de Transposição do São Francisco que usará o percurso do Salgado como calha natural, ajudará em muito um possível projeto de desenvolvimento voltado para o turismo ecológico em várias partes do rio onde os atrativos naturais são preponderantes. Para tanto, faz-se mister certo investimento no tocante a infra-estrutura de acesso. Para citar apenas alguns dos muitos atrativos naturais do manancial salgadiano: a aprazível vista da ponte; os mergulhos nas suas diversas barragens; o banho e o panorama proporcionado pelo Poço do Meio, o insólito suposto sítio arqueológico da Massalina(sítio Volta), a promoção de pescaria esportiva e controlada em quase todo o seu percurso, etc. Tudo isso, por outro lado, facilitaria o desperta para a necessidade de uma efetiva consciência ecológica atrelada a uma visão mais responsável no tocante à preservação dos recursos naturais do Salgado e por extensão, de todo o bioma aurorense por parte da população. Também é digno, tanto de preservação, quanto de aproveitamento turístico a enigmática necrópole conhecida sob a denominação de Cemitério da Bailarina situada no sítio Carro-quebrado na região de Antas. Enigmáticos resquícios de sepultamentos clandestinos que remontam possivelmente do século XVII.(ver matéria especial publicada na Revista Aurora nº 01/07).
Um município com o potencial cultural de Aurora não pode se dá ao luxo de prescindir de um centro cultural, de um museu, de oficinas de artes e ofícios, de um núcleo de exposição permanente, de uma central de artesanato, de uma biblioteca que seja modelo e referência para o Cariri, enfim de uma política de cultura realmente “agressiva” que possa mostrar aos próprios aurorenses e ao Brasil o que o município tem de melhor nesta área. É inconcebível que tenhamos ainda jovens que sequer já ouviram falar em Hermenegildo de Sá Cavalcante, Jaime de Alencar Araripe, Nêgo Simplício, Serra Azul, Marica Macedo, Padre Francisco França, Padre Luna, Amarílio Gonçalves e tantas outras figuras importantes desta terra. Ainda, muito pouco ou quase nada conheçam acerca da história de luta e formação deste núcleo urbano. Todavia, conhecem de cor e com riquezas de detalhes Madona, Xuxa, Michael Jackson, Tiririca, Bola de Fogo, Ronaldinho Gaúcho e por aí vai...Convenhamos, não podemos permanecer impassível perante esta inversão de valores a cada dia mais crescente. Antes de se estudar o rio Nilo, Tigre e Amazonas por exemplo; é imperioso conhecer o rio Salgado, o Jaguaribe, o riacho do Jenipapeiro, dos Porcos, o açude Cachoeira, o Orós, o Castalhão, a Massalina, o bouqueirão, o olho d'água de Vinô, etc... de modo que o universal precisa começar de fato, por nosso quintal.
Esta constatação também está umbilicalmente atrelada a forma como temos tratados historicamente as nossas riquezas culturais(tradição, o folclore, os saberes do senso-comum) e, por conseqüência o tratamento que se tem oferecido aos nossos valores(os artistas e artesãos). Penso que a própria escola( no seu atual modelo engessador de novas idéias) e, sobretudo a sua metodologia estanque tem ajudado no atual emaranhado destas nossas contradições.
Pois uma cultura de verdade não se cria. Vive-se e se preserva. Ao passo que a cultura é a própria identidade de um povo, sem ela, não se é ninguém... Assim como um povo sem história nunca pode sequer se imaginar no esteio do futuro. Portanto, para que estejamos definitivamente situados no tempo e no espaço por intermédio desta nave cósmica que é a terra, levitando no éter espacial da via-láctea universal no seu eterno itinerário expansionista, precisamos desta visão holística; só nos proporcionada pela consciência plena dos nossos verdadeiros valores sócio-culturais, ambientais e humanistas. É preciso conhecer para viver uma cultura de verdade, sob pena de não sermos ninguém. Ou quem sabe, apenas mais um, perdido para sempre numa massa amorfa que não pensa e não vive por si mesma. Chega, de se viver e consumir gregariamente o que não é nosso.
Por isso acreditamos que Aurora daqui para frente resistirá à tentação. Ou pelo menos se esforçará para isso. Optando por viver e construir um novo tempo cultural para sua gente, com o mesmo entusiasmo de quem constrói uma aventura para uma vida inteira.
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José Cícero -
Professor, pesquisador, poeta e escritor.
Editor da Revista Aurora
Aurora – CE.
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